Cencoroll. A animação de uma pessoa só.


É possível fazer um anime praticamente sozinho? Cencoroll está ai para mostrar que isso já foi tentado. Esta animação é um projeto de um "homem só", idealizado por Atsuya Uki, que foi o criador original, roteirista, diretor e animador desse curioso curta de 26 minutos.



Cencoroll é um curta-metragem que teve sua estréia mundial em 28 de julho de 2009 no Fantasia Festival, em Montreal. Como dito, é um projeto de autoria de Atsuya Uki. Naturalmente, o título de "anime de uma pessoa só", pode ser um slogan exagerado, já que embora o roteiro, a direção e a animação sejam o cerne do trabalho, há ainda muitos detalhes técnicos e serviços que se fazem necessários para deixar uma animação pronta.



Não digo isso com a intenção de tirar o mérito de Atsuya Uki, muito pelo contrário, a minha intenção é justamente parabenizar o idealizador deste projeto bem como as outras pessoas envolvidas em sua produção, tanto da parte de produção como na trilha sonora. Cencoroll foi produzido pela Aniplex por meio do estúdio Think Corporation. A trilha sonora como o tema principal foram compostos por Ryo da banda Supercell.

Cencoroll foi baseado livremente em um mangá do próprio Atsuya Uki, chamado Amon Game, de 2005. Inclusive esse mangá ganhou o Grand Prix Award da revista Afternoon da Kodansha. Em 2006, a Anime Innovation Tokyo começou uma iniciativa de patrocinar um anime produzido por algum animador ou pequeno estúdio independente, e justamente Cencoroll foi escolhido para tanto. Em 2007 Atsuya Uki disponibilizou um curta de Cencoroll na internet, com relativo sucesso.



Este retorno positivo motivou Atsuya Uki a elaborar o projeto de fazer uma animação praticamente sozinho, atuando como roteirista, designer, animador e diretor do pequeno filme de quase trinta minutos que é Cencoroll. Esse evento foi uma marco para a Aniplex, sendo a primeira vez que essa grande produtora aceitou produzir um projeto desse grau de independência produtiva. Originalmente a animação se chamaria Untitle (bom que mudou de nome)

Atsuya Uki gostou tanto do resultado de Cencoroll que resolveu criar uma sequência, Cencoroll 2, continuando a história do primeiro filme de onde parou. Esse Cencoroll 2 tem até trailer, lançado no começo de 2014. A previsão era para o seu lançamento no mesmo ano, mas estamos até agora aguardando, sem uma data nova para a entrega do material. Tentamos ser pacientes, afinal, realizando a maioria das tarefas sozinho, uma obra dessas, mesmo que pequena, deve ser bastante trabalhosa.




Sabemos que Atsuya Uki nestes últimos anos anda trabalhando em vários outros projetos, sobretudo na área do character design. Ele foi o responsável pelo design dos personagens de Digimon Tri. 1: Saikai (2015) e suas continuações Digimon Tri. 2: Ketsui (2016) e Digimon Tri. 3: Kokuhaku prevista para setembro de 2016. Atsuya Uki também trabalho como designer dos personagens do anime Tsuritama (2012) e do clipe da Hatsune Miku Sekiranun Grafitti (2011)

Bom, agora voltando a falar de Cencoroll, muitos ainda não devem ter entendido do que se trata a obra. Cencoroll já começa de uma maneira abrupta, um monstro gigante, branco e amorfo cai misteriosamente em cima de um prédio de uma grande cidade japonesa. Neste meio tempo, somos apresentados ao protagonista Tetsu, um estudante aparentemente normal, aparentemente porque ele pode controlar por telepatia uma criatura que pode assumir qualquer forma, a qual é chamada Cenco.



Aparentemente Cenco é da mesma espécie da criatura gigante e alienígena que caiu em cima do prédio. Tetsu anda pra cá e pra lá com Cenco, disfarçado obviamente, diante da capacidade de Cenco, já que é necessário manter segredo sobre sua existência.  Infortunadamente, Yuki, uma garota colegial, colega de escola de Tetsu acaba descobrindo a existência de Cenco quando ele se transforma em uma bicicleta, desse ponto em diante a garota fica fascinada pela criatura.

Por Yuki estar acompanhando Tetsu acaba se mantendo em uma grande confusão. Um outro "controlador" dessas criaturas, chamado Shu, aparece do nada e tenta atacar Cenco com uma outra espécie de alienígena capaz de controlar tentáculos e ficar invisível. Logo se descobre que Shu está envolvido com o aparecimento da grande criatura branca de pouco antes. Bom, não posso contar muito mais já que a obra é pequena e qualquer coisa pode ser considerada spoiler!



Dentre deste contexto formado pelo conflito destes três adolescentes, Tetsu, Shu e Yuki, bem como pelas criaturas se desenvolve a história deste curioso curta-metragem. Por ser uma obra curta, naturalmente, muitas coisas ficaram em aberto, mas a maneira como Cencoroll se desenvolveu foi a mais indicada para uma obra de sua natureza. Cencoroll não tentou explicar todos os seus mistérios, tornando a obra um amontoado de informações desconexas.

Continuando, caso Uki tentasse enfiar em Cencoroll uma série de informações e explicações, essas ficariam superficiais diante do pouco tempo que tinha para trabalhar. Mantendo o foco nos personagens e em suas ações naquele período de tempo, foi possível criar uma empatia pela história e seus personagens, mesmo que o mistério por trás da obra, qual seja, o surgimento das criaturas, tenha ficado de fora da animação.



Quanto a caracterização dos personagens segue o mesmo parâmetro do que apontei no parágrafo anterior. Não há muito o que fazer em 27 minutos, o melhor é mesmo tentar caracterizá-los de uma forma que seja agradável e cativante a quem estiver assistindo. Tetsu parece sempre entediado com tudo, como se os acontecimentos estranhos e criaturas alienígenas fossem as coisas mais banais do mundo, somente Yuki, mostra uma personalidade mais cativante, enérgica e curiosa.

Creio que Uki tentou mostrar que esse eventos estranhos já estavam se tornando corriqueiros no cotidiano daquela cidade, principalmente para Tetsu, devido a isto que ele não se mostrava aflito nem assustado quando algo ocorria ou quando era colocado em uma situação de risco. O tédio do cotidiano, principalmente dos adolescentes foi abordado de uma forma quase metafórica. Esse contexto do cotidiano com criaturas alienígenas lembra bastante Alien 9, de Hitoshi Tomizawa.



Um dos aspectos mais cativantes, o qual separa Cencoroll do limbo das animações comuns, é justamente sua arte e animação. O character designi de Uki embora não seja nada memorável é muitíssimo agradável, e unido com uma boa animação torna-os muito expressivos. Entretanto, o destaque da animação vai mesmo para o surrealismo presente na obra, Cenco e suas transformações mirabolantes, de bicicleta até um pote de pudim gigante.

As cenas das transformações de Cenco, bem como as cenas das lutas são muito bem animadas e fluídas, demonstrando o talento de Uki na arte da animação. Pode-se criticar Cencoroll o quanto quiser, mas o nível de qualidade tanto de enredo como de animação criados por um homem só é digno de nota. Os planos de fundo de Cencoroll também merecem uma nota, a ausência de contornos causa um belo efeito geral, mesclado com as animadas cenas de ação.



Já ia esquecendo de um dos pontos mais controversos desta animação, ela não possui trilha sonora. Somente o tema de encerramento composto pelo Ryo do Supercell. Confesso que não senti a mínima falta da trilha sonora enquanto assistia. Só fui me dar conta que falta algo quando terminei de assistir. Foi uma ideia criativa, que combinou com o aspecto surreal da obra. Também propiciou um destaque do trabalho dos competentes dubladores de Cencoroll.

Cencoroll foi um trabalho tão interessante e inovador, que suas pequenas falhas podem ser facilmente perdoadas. Sem dúvidas, Cencoroll, esta pequena animação, me cativou positivamente diante de sua originalidade e dos méritos de seu processo de produção. Assim, mesmo que todas as questões de Cencoroll não tenha sido resolvidas, não teve como eu não me satisfazer com o seu final simples e adequado.



A história é bastante simples, mas isto não lhe tira o mérito, é melhor ser simples em algo curto do que complexo em demasia sem o tempo suficiente para criar um bom resultado. Sendo assim, Cencoroll é plenamente recomendável. Por ser somente 28 minutos, tirem um tempinho para assistir, prevejo que não irão se arrepender. Assim, chego ao fim do post de hoje, espero que apreciem e não deixem de comentar, por favor.


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