Shelter. Eu sei que não estou só. Um épico sci-fi de Porter Robinson.


Hoje vou escrever um pouco sobre um clipe musical. Já estou incorporando na rotina do blog escrever de vez em quando sobre uma música que possua uma animação possível de ser analisada neste espaço. O clipe de hoje é muito recente e provavelmente muitos de vocês já devem ter visto ou pelo menos escutado a música. O vídeo dela possui mais de 10 milhões de acessos no Youtube. Sim, é algo bastante famoso e foge, por isso, um pouco da temática do Dissidência Pop que é apresentar material mais desconhecido. Mas não tanto assim, pois no meio otaku o clipe e a música não são tão conhecidos, pelo menos ainda.

Primeiramente os dados técnicos, a música se chama Shelter, de autoria do DJ Porter Robinson em parceria com o produtor de música eletrônica francês Madeon. A música foi lançada em 11 de agosto de 2016. O clipe de Shelter é ainda mais recente, de 18 de outubro de 2016. O vídeo da música foi produzido pelo renomado estúdio A-1 Pictures, lar de inúmeros animes famosos, sendo dirigido por Toshifumi Akai, experiente diretor que trabalhou em diversos animes, como Blood +, Fullmetal Alchemist: Brotherhood, Kokoro Connect, Panty & Stocking with Garterbelt, entre muitos outros.



A sinopse do clipe demonstra que o enredo é simples, mas muito tocante, explorando ao máximo o mundo da ficção científica dentro dos parcos limites temporais que um vídeoclipe pode oferecer. Rin, uma menina de 17 anos, vive dentro de um simulador futurista em completa solidão. Cada dia, ela desperta na realidade virtual para criar um mundo para si mesma, mas na vida real, o corpo dela está em estado de coma perpétuo, flutuando pelo universo. O clipe apresenta flashbacks, nos quais podemos descobrir um pouco da história de Rin.

Aparentemente ela vivia feliz com o seu pai, quando um catástrofe ameaça a Terra, como é mostrado no clipe. Para salvar a vida da filha ele constrói uma nave capaz de mandá-la para fora do planeta. Bom, o problema é que provavelmente ele não podia calcular quando ela chegaria em um destino seguro, então criou um sistema no qual Rin ficaria em estado de coma induzido enquanto atravessava o espaço.


O mais interessante é o sistema que ele criou, capaz de permitir que Rin consiga interagir com sua própria consciência, moldando um mundo artificial da maneira que bem entender. Neste "mundo" artificial na cabeça de Rin, ela possui uma espécie de tablet na qual o que ela cria se torna real naquele mundo, como montanhas, cidades, etc. Mesmo com todo esse poder criativo ela sofre devido a extrema solidão. Parece que não é capaz de criar nenhuma companhia para ela no seu mundinho particular, apenas revisitar momentos do seu passado através de flashbacks.

Ela mantém o controle da simulação e do mundo virtual em torno dela através do já mencionado tablet no qual ela pode desenhar cenas que o mundo ao seu redor recria em um ambiente tridimensional. Ela continua assim por muitos anos, vivendo uma vida tranquila, mas solitária. À medida que o tempo passa, ela começa a lembrar-se de coisas sobre o seu passado, e a simulação começa a agir por conta própria, mostrando suas memórias reprimidas. 


Como observadora invisível, Rin testemunha sua vida como uma criança de sete anos de idade, morando em Tóquio. Através de uma série de noticiários e imagens, aprende-se que, neste momento, um objeto planetário está em um curso de colisão com a terra. O pai de Rin, Shigeru, dedica uma grande parte de seu tempo à felicidade de sua filha, mas se vê obrigado a construir uma espaçonave para que Rin escape. 

A animação de Shelter demonstra o ápice da qualidade técnica que o estúdio A-1 pode oferecer, as cores utilizadas, a fluência dos movimentos e qualidade da animação contam muito a favor no resultado final do vídeo. Claro, a música ajuda muito! Uma batida eletrônica cativante, que atinge lá no fundo da alma, que combinado com o enredo voltado para temas sentimentais não tem como não tocar quem estiver assistindo, a não ser que você tenha um coração de pedra. 


Também não pode ser deixado de mencionar Sachika Misawa a dubladora de Rin, que nos momentos nos quais ela atuou em Shelter demonstrou uma qualidade bastante elevada, mostrando emoção na medida certa. Essa dubladora ganhou o 2008 Kadokawa Up-Front Style Idol Seiyuu Audition, um dos mais importante concursos de dubladores do Japão, ela trabalhou em animes como Accel World e Aldnoah.zero. 

A letra da música também encaixou perfeitamente no enredo do clipe, trechos como: "And it's a long way forward So trust in me I'll give them shelter Like you've done for me And I know, I'm not alone You'll be watching over us Until you're gone" (Há um longo caminho pela frente. Então, acredite em mim. Vou lhes dar abrigo. Assim como você me deu. E eu sei que não estou sozinho. Você estará olhando por nós. Até quando você se for). O que melhor ilustra a história de uma menina perdida no espaço, fazendo uma longa viagem e refém da solidão do que esta letra?


Interessante verificar que o projeto deste clipe veio de uma parceria entre Porter Robinson com a Crunchyroll, famosa empresa de streamming de animes. E Robinson não foi apenas o responsável pela música que deu origem ao clipe, ele escreveu a história dele, então é possível verificar que é algo que ficou plenamente em conformidade com o gosto do autor, que criou previamente a música e depois um enredo que se encaixasse nela. O caráter emotivo do clipe também não é por acaso, o próprio Porter Robinson cita que gosta de obras emotivas, seu filme favorito é justamente Wolf Children, de Mamoru Hosoda.

A iniciativa dessa parceria para criar um clipe feito em estilo anime não surgiu do nada, Porter Robinson nunca escondeu que sempre foi fã de animes e da cultura japonesa como um todo, sendo, não raras as vezes, que integra elementos "otakus" em suas músicas e clipes. Ele inclusive já utilizou Vocaloids para criar os vocais de suas músicas, em especial Sad Machine, na qual utilizou a Vocaloid AVANNA. Como outros artistas eletrônicos ocidentais, ele também cita o bizarríssimo vídeo musical de Kyary Pamyu Pamyu "Ponponpon" como uma influência.


Só lembrando que ele não é o primeiro e nem provavelmente o último músico ocidental a expressar amor pelo mundo dos animes. Um dos exemplos mais conhecidos aconteceu em 2001, quando o duo francês Daft Punk colaborou com Leiji Matsumoto em "Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem", que animou o álbum "Discovery" do duo (Interstella já foi analisado no Dissidência Pop, não deixem de conferir também).

Concluindo, Shelter se mostra uma obra altamente recomendável, tanto a música que por si só é muito agradável para todos aqueles que apreciam música eletrônica, bem como a animação, a qual além da clara qualidade técnica de sua produção e direção, possui um enredo rico e muito bem trabalhado nos poucos minutos que o clipe poderia comportar. Não nego que a história tem potencial para uma série mais longa, mas não reclamo do resultado final. Assim, fica a dica dada aos meus caros leitores.

Como o clipe gerou muitas screenshots legais, segue abaixo mais algumas imagens do clipe:













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