River’s Edge. A melancolia da juventude.
Hoje vou tentar uma coisa nova aqui no Dissidência Pop, estou trazendo um texto de um parceiro meu, Muragami, do Blog Matsueki. Quero que o Dissidência Pop seja uma espaço de difusão de boas obras que não sejam muito conhecidas, desta forma, abro o espaço para que outras pessoas tragam resenha com qualidade. Nesse caso, Muragami já possui um blog, mas isso não é um requisito. Se você quer tentar publicar no Dissidência Pop um texto seu sobre um mangá ou anime mais desconhecido do público geral, sinta-se livre para entrar em contato comigo pelo e-mail gatodeulhtar@gmail.com. Caso eu aprove o texto, estará tudo certo para a publicação. Agora aproveitem o texto de Muragami sobre o mangá River's Edge, da mesma autora de Helter Skelter:
Depois que li o fantástico Helter Skelter, de Kyoko Okazaki, descobri que existia um spin-off, chamado River’s Edge. Obviamente que eu tinha que ir atrás desse mangá, depois da excelente experiência com essa autora.
Ele conta a história de Yamada, um estudante que sofre bullying pesado de outros alunos da escola. A namorada do valentão, Haruna Wakakusa, acha isso muito errado, e briga com seu namorado constantemente, tentando impedir que ele continue maltratando o Yamada. Ela acaba salvando-o algumas vezes, e surge uma amizade entre os dois.
Através do Yamada, Wakakusa vai conhecer Kozue Yoshikawa, que apesar de bem nova, já trabalha como modelo profissional.
A ligação com a outra obra de Okazaki surge aqui: Kozue Yoshikawa, em Helter Skelter, é a modelo nova, que desbanca a Liliko, e se torna alvo de todo seu ódio. River’s Edge apresenta a vida escolar de Yoshikawa, focando em sua relação com os colegas.
Parece um mangá padrão de slice of life, mas não se esqueça que ele é da Kyoko Okazaki, e podemos esperar tudo dela, menos algo normal. E isso já começa pelo traço, que é horroroso. Inclusive, em alguns momento, o desenho dela me atrapalhou, porque não conseguia identificar quem era o personagem. Não vou procurar argumentos para defender o traço da autora, ele é horrível, e ponto final. Mas a história é tão boa, tão interessante, que você esquece (quase) completamente do desenho.
Ler River’s Edge foi uma experiência mais sensorial do que racional. É incrível como ele atinge os sentimentos. A leitura começa tranquila, até que o Yamada revela seu primeiro segredo. A partir daí, é ladeira abaixo a 300 quilômetros por hora. Cada página é uma pancada diferente. Vemos os dramas dos personagens, a sensação deles perante a vida, que é de total apatia, onde nenhum fato é capaz de mexer com eles. As atitudes são extremamente egoístas, como se eles quisessem se salvar de qualquer maneira, mesmo que para isso precise destruir o outro.
Esses jovens estão completamente perdidos, apáticos, entediados, não enxergam sentido na vida, e a autora consegue transmitir isso para o leitor de forma perfeita. Você sente com o personagem.
É uma obra que faz pensar, mas acima de tudo, que te faz sentir. É difícil explicar exatamente a sensação que ela passa, é meio que uma agonia, uma perplexidade, perante a apatia extrema dos personagens. Durante a leitura, a todo momento, eu me perguntava: “como você pode não reagir a isso?”.
É uma mangá bem curto, mas foi uma leitura que mexeu bastante comigo, que me fez sentir muita coisa, mesmo que de forma confusa. Aliás, acho que é exatamente isso que a autora quis passar: uma angustia confusa, difícil de explicar, mas que se sente com intensidade.
A sensação pós-leitura é bem perturbadora. Bate um vazio, misturado com melancolia, com uma dose de desesperança. É uma sensação estranha.
Essa obra apresenta muito bem o lado negro da juventude, e como todo mundo passa por ele, deve ser por isso que a identificação com ela é tão grande. O tédio, a ausência de esperança, a falta de razão para a vida, o vazio existencial, tudo isso é muito bem abordado.
Mas ainda existe esperança, mesmo que bem longe, e ela vem do oceano.
Se você está procurando um mangá diferente, profundo, denso, que vai te fazer pensar, mas acima disso, vai te fazer sentir, River’s Edge é a pedida perfeita. Para vocês terem ideia, uma obra não mexe dessa forma comigo desde Evangelion.