Uta Kata - O Mahou Shoujo que não é para crianças muito antes de Madoka.


Muitos pensam que a onda de mahou shoujos com temáticas mais adultas e não exatamente apropriados para crianças surgiram com o famoso Puella Magi Madoka Magica, isso em 2011, mas as coisas não são bem assim. Embora Madoka seja o exemplo mais famoso dessa leva de mahou shoujos "dark", um anime mais antigo, de 2004, já seguia esta mesma linha, abordando temas considerados pesados, como abuso infantil, tendências suicidas e violência gráfica. Este anime é Uta Kata, uma pérola esquecida da temporada de animes de 2004.

Uta Kata é um mahou shoujo bastante diferenciado de seus companheiros de gênero. Explicando melhor, há suma garota mágica, mas apenas uma, e essa garota só pode realizar 12 transformações e em cada transformação sua vestimenta é diferente. Além disso, não há monstros nem delinquentes a se enfrentar, mas apenas as piores facetas do ser humano. Essa e outras singularidades fazem de Uta Kata um mahou shoujo único e sem precedentes (nem sucessores) da história da animação japonesa.

O nome do anime, Uta Kata, possui um significado bastante curioso. Uta significa poema e kata significa fragmento, o nome do anime seria então "fragmento de poema", mas não é só isso, pois quando o nome Uta Kata é grafado junto, utakata, passa a significar bolhas. Toda a ambientação do anime é baseada em uma localidade real do Japão, Kamakura, cidade litorânea a 50 km de Tóquio, conhecida pelos seus vários templos e por seu grande Buda. Por isso é normal ver as personagens interagindo na praia ou em templos conhecidos da cidade.

Uma das 12 vestimentas que Ichika utiliza no anime.

Uta Kata é um anime de 2004, sendo exibido de 03 de outubro até 19 de dezembro, composto por 12 episódios mais um OVA, lançado em 22 de abril de 2005, o qual dá uma pequena continuidade ao final da série. Uta Kata foi produzido pelo estúdio Hal Film Maker, que produziu outros animes clássicos, como Aria the Animation, Princess Tutu, B-gata H-kei e Skip Beat. Uta Kata foi um anime original, o qual ganhou também uma adaptação em mangá pelo mangaká Keito Koume.

O diretor de Uta Kata foi Keiji Gotoh, renomado character designer, diretor e animador japonês. E falando em Keiji Gotoh, o anime foi uma criação de um grupo produtor de animes chamado gímik (sim o nome é com "g" minúsculo), formado justamente por Keiji Gotoh, que conforme dito acima foi o diretor de Utaka Kata, Megumi Kadonosono, responsável pelo design dos personagens e Hidefumi Kimura, o roteirista da série.

Primeira transformação de Ichika, quando ela sai voando com Mamatsu.

Lembram que eu disse lá em cima que em cada transformação a heroína de Uta Kata utiliza uma fantasia diferente? Esse é um dos grandes destaques de Uta Kata, o design de cada fantasia foi desenvolvido por alguém da indústria dos animes/mangás. Por exemplo, a fantasia do episódio 3 foi criada por Hajime Ueda, autor do mangá FLCL e animador de Monogatari Series. A roupa do episódio 9 foi desenhada por Mine Yoshizaki, criador de Sgt. Frog. Kōshi Rikudō, criador de Excel Saga, desenhou a fantasia do episódio 10 e Ken Akamatsu, autor de Love Hina, criou a vestimento do episódio 11.

Tirando essas interessantes curiosidades, do que se trata Uta Kata afinal de contas? Uta Kata nos conta a história de uma menina de 14 anos chamada Ichika Tachibana, que aparenta ser uma menina normal com um bom círculo de amizades. Contudo, alguns eventos mudam a vida da garota. Ela recebe um medalhão que representa o YinYang do taoismo de um dos seus tutores, o bem apessoado Sei. Não é segredo que Ichika nutre sentimentos amorosos por Sei. Sim, ela tem aulas particulares com dois rapazes um pouco mais velhos, o já mencionado Sei e seu amigo inseparável Kai. Se ela vai mal na escola e precisa de aulas complementares, nada é dito neste sentido.

Ichika e suas amigas.

Um belo dia, prestes a começar as férias de verão, Ichika e suas amigas são obrigadas a limpar a ala velha da escola. Ichika acaba que por acaso encontrando um grande espelho, e por uma situação mágica inesperada, uma garota de cabelo verde-água, de mais ou menos sua idade, sai do espelho. A garota se chama Manatsu. A misteriosa menina pega o amuleto de Ichika e promete devolvê-lo caso Ichika aceite fazer o seu dever de casa de verão e utilizar o amuleto para invocar seres poderosos chamados Dijinns, cada um ligado a um elemento específico. O amuleto de Ichika possui 12 bolinhas pretas, as quais acabam ficando coloridas, cada uma representando um Dijinn.

O que são os Dijinns? O anime não explica quase nada do seu universo mágico, mas levando em consideração o que entendemos por Dijinns, podemos mantê-los como entidades mágicas capazes de conceder desejos aos humanos, são os famosos gênios da lâmpada da mitologia árabe. Mas não há nada de árabe no anime, ele não remete a nenhuma cultura em particular, além do nome destes seres mágicos. Segundo a tradição do islã, os Dijinns são criaturas intermediárias entre os humanos e os anjos, podendo ser bons ou maus, dependendo de seus próprios caprichos para tomarem suas decisões.

Exemplo de um Djinn, entidade mágica que confere poderes à Ichika.

Voltando à Uta Kata. Manatsu introduz à Ichika como utilizar o amuleto, e que ela poderá utilizá-lo 12 vezes, e também que saberá o momento ideal de invocar os Dijinns. Para ter de volta o querido amuleto que o Sei deu, Ichika aceita o trato. Com o objetivo de fazer um teste, Manatsu propõe a utilização do primeiro Dijinn. E assim se faz a mágica, Ichika é envolta em magia, recebe uma roupa típica de mahou shoujo e voa pelo céu azulado. Esse foi o seu primeiro uso. Ichika acaba levando Manatsu para morar em sua casa, alegando para seus pais que ela era uma amiga por correspondência. Essa mesma desculpa Ichika utiliza para introduzi-la para suas amigas.

Inicialmente Ichika utiliza os poderes dos Dijinns para resolver problemas bem simples ou ajudar os seus amigos, como achar o relógio caríssimo de seu pai que ficou perdido na praia e brilhar até chamar a atenção de alguém para salvar uma amiga que estava sendo importunada por um suposto abusador. Ichika também utilizou os poderes dos Dijinns para recolher papéis espalhados pelo vento e encontrar uma amiga desaparecida na chuva durante um acampamento de estudos. Contudo, com o desenrolar dos acontecimentos, as transformação vão entrando em outro nível e saindo do controle de Ichika, sendo que ela não gosta nenhum um pouco no rumo que as coisas estavam tomando. Algumas transformações quase tiram a vida de inocentes além de outras coisas igualmente pesadas.

Exemplo de situação perigosa presente no anime, quando a garota é assediada por um stalker.

Em suma, esta é a sinopse de Uta Kata, mas há algo além disso? A resposta é sim. Vários elementos diversos tornam esse anime bastante particular em relação a outros mahou shoujos. Ichika possui um grande grupo de amigas, mesmo que somente ela e Manatsu saibam das transformações dos Dijinns. Dentre suas amigas se destacam Michiru, uma quieta e tímida garota, a qual possui poderes sensitivos, e acaba sentindo que a situação vivida por Ichika não é nada normal. Keiko, uma herdeira de uma família rica, supostamente envolvida com a Yakusa, sendo a influência de sua família a causa de muitos pesares, e Satsuki, a mais extrovertida da turma, mas que esconde um passado tenebroso de abuso. Mais a frente haverão spoilers, é difícil falar do anime sem soltar uma ou outra revelação do enredo. Estejam avisados. Mas adianto que não serão nada muito relevantes para a apreciação do anime.

O uso dos poderes dos Dijinns giram em torno de Ichika e de suas amigas, claro, algumas vezes os poderes são utilizados para ajudarem outras colegas menos relevantes, ou somente para ela mesma. Inicialmente, o amuleto era usado até em situações nem um pouco perigosas, para resolver situações do cotidiano. Em cada uso do amuleto Ichika aprendia uma lição. Mais do que um anime sobre magia, Uta Kata se mostrou uma obra sobre aprendizagem juvenil. Um verdadeiro coming-of-age onde vimos o avanço de Ichika na maturidade. O uso de seus poderes mágicos temporários propiciaram para ela aprender importantes lições sobre a amizade, o benefício de sempre dizer a verdade e como entender os sentimentos dos seus amigos e familiares.

Os misteriosos Sei e Kay.

Contudo, lentamente, as situações vividas por Ichika ficam cada vez mais graves e ela cai em uma profunda depressão, deixando de aprender lições para se deixar levar pelo lado ruim das coisas, como a mentira, o ódio e a falta de sentido da vida. Essas experiências negativas minam pouco a pouco a saúde emocional de nossa heroína, assim como sua saúde física, já que ela passa do ponto ao desenvolver até mesmo distúrbios alimentares. Em uma fase mais avançada, Ichika nem ao menos possui controle sobre as suas ações quando transformada, demonstrando a ladeira emocional na qual entrou.

Outro ponto interessante na construção de Uta Kata foi o constante mistério sobre as reais intenções dos vários personagens que foram introduzidos já no primeiro episódio. O mistério em Uta Kata é tão grande que apenas no último episódio conseguimos entender mais ou menos qual era o objetivo de toda a situação vivida por Ichika. Só para terem uma ideia, no começo da série visualizamos com precisão que Sei e Kay sabem mais do que aparentam, e que a misteriosa Saya, uma vizinha de Ichika, possui interesses obscuros. Esta Saya durante a série toda fica observando Ichika e suas amigas de maneira furtiva, claramente demonstrando que possui interesses não muito sadios.

Saya, a misteriosa presença que acompanha a série toda.

Mas não pense que esses mistérios levantados por Uta Kata são todos bem explorados, longe disso, muita coisa fica em aberto, com ponta soltas, e isso realmente é de incomodar um pouco, mas não afeta a percepção de que Uta Kata seja uma obra narrativamente bastante coesa. Por exemplo, qual o objetivo do Sei dar o medalhão para Ichika? Eles foram obrigados a isso? Obviamente eles sabiam o que era aquele medalhão e o que ele causaria na vida de Ichika. E também, qual a natureza dos Dijinns? São deuses, anjos, quem é aquele superior que a Saya liga no último episódio, seria Deus? Quem ver ou que já viu o anime sabe que essas são apenas uma das poucas questões que o anime deixa no ar.

Curioso que mesmo sendo os Dijjins criatura oriundas do folclore islâmico, o amuleto seja um símbolo partido do Yin Yang, mas isso faz bastante sentido, já que na primeira metade "branca", Ichika conheceu as virtudes de suas amigas e aprendeu experiencias de elevação espiritual e social, e já nas parte "negra", a real natureza da sociedade foi exposta e jogada na cara de Ichika, que teve que aprender na marra quão duro é o mundo dos adultos.  

Mais um exemplo de transformação de Ichika.

Não posso deixar de mencionar um dos pontos altos e principais do anime a relação entre Ichika e Manatsu. Mas quem é Manatsu? No anime inteiro fica esse mistério no ar. Mas não é difícil de perceber que Manatsu é um reflexo de Ichika, e isso é dito continuamente. Tanto é que Manatsu sai do espelho e no final ela volta a sua forma original como um caco de vidro do espelho. Manatsu é Ichika e Ichika é Manatsu, mas as duas não são iguais na aparência nem na personalidade, devido a isso, creio que Manatsu seja uma personificação dos próprios sentimentos de Ichika, por isso elas se dão tão bem. Não quero decepcionar os amantes de yuri, mas aquele beijo entre as duas me pareceu destituído de qualquer intenção amorosa, servindo como uma espécie de reencontro com sua metade faltante, o mesmo se deu com o Sei e o Kay. Pararei com os spoilers aqui!

Uta Kata funciona muito bem como uma readaptação mágica do velho arquétipo do ritual de passagem. Não é necessário que viremos uma mahou shoujo ou um mahou shounen e que tenhamos que cumprir uma missão mística imposta a nós para termos que nos deparar com a realidade do mundo adulto. Quando realizamos a transição da adolescência para a vida adulta já temos que enfrentar todos esses dilemas, vivendo por nós mesmos, ocasionando o ato de sair da proteção dos seus pais e viver por conta própria. Por isso é significativo como Ichika fica contente quando pede para a sua mãe parar de chamá-la de Ichika-chan e passar apenas a chamá-la de Ichika. Parece um ato simples, mas está repleto de significado.

Um dos principais conflitos de Ichika, a necessidade de mentir para manter as aparências.

Toda dor que Ichika passa, todo o sofrimento por não entender suas amigas nem o sentimento que sente por Sei, a dificuldade em aceitar quem ela é, a impressão de impotência em relação ao mundo é justamente o que passa todo, ou quase, jovem nesta fase da vida, o desejo de encontrar o seu lugar. Ichika passa justamente por estas duas fases. A fase na qual se vê aprendendo diligentemente enquanto ajuda suas amigas, seja quando auxilia uma quanto a um possível abusador ou quanto se depara e tenta consolar, mesmo não conseguindo, a amiga que foi enganada e deixada de lado por seu interesse amoroso. Ichika extrai importantes lições desses acontecimentos, em especial a necessidade de ser sincera com ela mesmo e com os outros. 

A segunda fase é a mais difícil, quando vê que talvez o mundo não tenha jeito e que é natural mentir e enganar os outros, não importando o que faça para impedir. A desilusão com a natureza humana. O problema de Ichika foi ter se deixado levar pela situação degradada do ser humano e por isso ter caído em um inferno astral sem precedentes, culminando em sua forte depressão. Ichika até mesmo tenta se livrar do amuleto, mas percebe que é impossível, da mesma forma que não podemos deixar de enfrentar nossos problemas. Aprendendo estas duas grandes lições, Ichica percebe ao final que mesmo assim há pessoas boas no mundo e ninguém é sem defeitos e nem máculas e que devemos viver tendo consciência disso.

Amuleto mágico de Ichika em forma de duas metades do Yin-Yang.

Em suma, Ichika conhece em seu desafio, as virtudes e os vícios, e é justamente isso que o anime vai mostrando. Em cada episódio Ichika aprende uma lição bastante específica sobre a vida, e mais tardar na série, quando os Dijins começam a perverter Ichika e ela acaba se tornando mais maliciosa, ela aprende na prática o que são os vícios. Tudo melhora quando Ichica se dá conta que ela não é responsável ou culpada pelo que ocorre de mau no mundo, então não tem como ela se responsabilizar por julgar os demais nem ela mesmo, já que é fruto do "mundo", só que lhe resta é ser a melhor pessoa possível dentro de suas parcas possibilidades.

Como dito acima, Uta Kata é bastante denso e possui os critérios para ser classificado para uma plateia mais adulta. Nos EUA a classificação indicativa de sua exibição é para maiores de 14 anos, o que já lhe faz fugir de um escopo eminentemente infantil. Uta Kata, assim como Madoka Magica, foge do estereótipo, pois mesmo possuindo uma camada "fofa" e "meiga", o recheio é amargo, pois não é fácil transpor para as telas temas como desordens alimentares, abuso infantil, misantropia e outros. Além disso, á pelo final da sério o anime se torna um pouco pesado graficamente, com direito a empalamentos e crucificações! 


Essa é a velha dicotomia que fazem os chamados mahou shoujo darks tão atraentes, o sabor agridoce de experimentar algo pesado com uma roupagem aparentemente leve. Esse é o sentimento de se observar obras como o já citado Puella Magi Madoka Magica, e Alien 9, que inclusive já resenhei no blog. Há um texto muito bom, que recomendo, de nosso parceiro Finis Geekis sobre o tema dos Mahou Shoujos Dark, mais especificamente se eles estão indo longe demais no ato de explorar uma violência gratuita em detrimento de algo mais substancial.

Só para comentar um pouco sobre o OVA de Uta Kata, ele é uma sequência direta do anime (Nesse parágrafo específico haverá spoilers, pois não dá para falar do OVA sem falar do final do anime, mas confiem em mim é só nesse parágrafo). Bem, o OVA deu uma possibilidade de nos despedirmos de Manatsu e Kay de uma maneira mais formal, tudo ficou muito corrido no último episódio. Também foi interessante para ver que não restou nenhuma mágoa entre os personagens, e que Ichika realmente se propôs a ser uma adolescente melhor do que ela já era no começo do anime. Esse OVA foi um plus ao bastante válido.


Falando um pouco da trilha sonora, ela por si só não chama a atenção, mas consegue transitar bem entre os momentos sombrios e alegres, nada de excepcional mas competente. O tema principal é bastante reconhecível e fácil de gravar. O destaque eu daria para a abertura Omoi wo Kanadete, executada pela banda Savage Genius, é a típica música chiclete que fica na cabeça, pelo menos ficou na minha. O encerramento, Itsuka Tokeru Namida, também pela Savage Genius, é igualmente viciante. 

A animação é boa, se levarmos em conta que é um anime de 2006, mais lembre-se que na época não se tinha os mesmos recursos de hoje, então nem adianta procurar uma versão em high definition. Os movimentos são fluídos e graciosos. O character design é competente para um anime da época, embora não tenha sido o próprio Keijih Gotoh que desenhou, me lembrou muito o traço dele. O destaque vai mesmo para as fantasias que Ichika utiliza, todas muito criativas, não deixando a desejar nem à Sakura Kinomoto em Sakura Card Captors.


Mas também há coisas para serem criticadas. Utaka Kata por vezes se mostrou muito lento na construção e assimilação do seu mundo. Entendo que esse era o objetivo, mas não deixa de dar uma impressão de lentidão. Além disso, o mistério é enrolado exatamente até o último episódio. Isso é uma faca de dois gumes, tanto pode atiçar a curiosidade de quem estiver assistindo, ou pode simplesmente fazê-lo perder a paciência. Contudo, dá para se dizer que Uta Kata é um bom anime.

Juntando todos os fatores que levantei, percebe-se que Uta Kata é um anime bastante singular, único em seu gênero. Mesmo dentro da subcategoria dos dark mahou shoujos ele se destaca por sua abordagem criativa, sem inimigos monstruosos a serem derrotados, mas apenas sentimentos a serem vividos e assimilados. Tudo reside nas experiências vividas pela protagonista e suas amigas, um bem sucedido coming-of-age. Também não há lutas nem combates, Ichika não serviria como uma guerreira, mas mesmo assim se mostrou uma grande protagonista de um bom anime. Se você gosta de mahou shoujos e aprecia uma adaptação do velho tema do ritual de passagem, Uta Kata é uma boa pedida.


Postagens mais visitadas