Café com Anime - Zombieland Saga episódio 3


Cá estamos novamente com Zombieland Saga, o anime mais non-sense da temporada, desta vez sobre o seu terceiro episódio, que trouxe um pouco de drama existencial ao enredo desta comédia.

Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. 

Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leia nosso post introdutório:

Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Zombieland Saga, enquanto o É Só Um Desenho, desta vez, ficou responsável pelo anime Yagate Kini no Naru, o shoujo-ai da temporada. Já o Finisgeekis cobrirá o anime Irozuku Sekai no Ashita Kara, um primor visual com toques de magia bem sutis. E no Anime21, continuaremos com nossas discussões sobre Banana Fish, adaptação de um mangá clássico dos anos 80.

Gato de Ulthar

E cá estamos nós, com o terceiro episódio de nosso anime "non-sense" mais querido da temporada, Zombieland Saga. Mas diferentemente dos dois primeiros episódios, não tivemos um show totalmente improvisado e insano, mas algo ensaiado e coordenado na medida do possível, já que as garotas tinham apenas um dia para preparar o show. O show não foi um sucesso, mas serviu para cimentar na mente das garotas que o caminho para virarem um grupo de idols é possível.
E tem mais, esse episódio foi mais humano (ou zumbi), o que mostra que Zombieland não é apegas um amontoado de piadas sobre mortos-vivos. O dilema das duas idols experientes, Junko e Ai ficou bem interessante de se ver, por serem idols antes de morrerem, elas sabiam que haviam poucas chances de toda essa palhaçada de zumbis não dar em nada, e uma, em especial, se apresentava sozinha, sem nunca ter se apresentado em conjunto.
Franchouchou, que espécie de nome foi esse?
Sem dúvidas a cena da criação do nome foi a mais engraçada do episódios, eu pelos menos jurava que quando a Tae pegou o canetão na mão ela iria escrever o nome do grupo, mas acabou engolindo ela! E depois quando foi decidido o nome do grupo por um espirro dela. Realmente a Tae é a personagem mais poderosa e importante do grupo!
E vocês, o que acharam do episódio?

Fábio "Mexicano"

Esse foi o episódio que me atingiu pela primeira vez, me fez pensar "wow, isso é uma história de zumbi". Fundamental para isso foi a cena em que o Koutarou dou uma bronca na Junko e na Ai, dizendo que as outras eram zumbis mas estavam tentando viver, enquanto as duas estavam apodrecendo.
Elas são zumbis, já estão mortas. Podem apodrecer, mas ele pode ressuscita-las, pode consertar seus corpos, não? Elas são praticamente imortais...? Talvez elas não sejam. De todo modo, a sensação de imortalidade (no sentido de não se ter em perspectiva a finitude da própria vida) é algo comum para adolescentes, como todas elas parecem ser (com exceção talvez da cortesã).
Esse é o tipo de coisa que eu quero que meu anime de zumbi me faça pensar a respeito.

Diego

O episódio deu mesmo um ótimo destaque e desenvolvimento para as duas ex-idol, e eu gostei bastante disso.
Mas eu preciso dizer: pra mim, o melhor momento do episódio foi o show delas. Mais especificamente, eu adorei aquele CG super mal feito :stuck_out_tongue: Contextualizando: GC ruim é praticamente stample em animes de idol, como Love Live e Idolmaster, então usar aqui soou como uma excelente paródia. Especialmente com o quão "na cara" foi e com o fato de que foi o primeiro show que não deu muito certo, com a audiência rapidamente indo embora. Eu quase ri alto, sinceramente.
No mais, quem mais ficou com dó da Sakura na hora do tapa? :smile:

Fábio "Mexicano"

Eu ainda não entendi a piada do tapa. Achei que fosse ter algum prosseguimento, porque ela ficou com cara de triste e tal, mas acabou ali. Suponho que em japonês tenha sido muito mais engraçado.

Vinicius Marino

Véi. Essa cena:
É como aquelas poças que você pensa que são rasas, mas aí engolem sua perna até o joelho.
Tem mais profundidade aí que em todo o lero-lero pseudo-Ikuhara de Starlight Revue.
"Ai, mimimi, ser a top star me deixou dodói"
#dropthemic

Fábio "Mexicano"

E não é? Como eu disse, foi essa a cena que transformou esse anime de uma comédia em ... bom, uma comédia ainda, e bem pastelona, mas com uma aura sinistra de finitude. No episódio anterior elas despertaram, e nesse episódio elas despertaram de novo, se entendem o que quero dizer.

Diego

Vou dizer que eu curtiria bem mais a mensagem dessa fala se não fosse pelo fato de que foi o produtor ai quem reviveu as meninas essencialmente para serem suas escravas, já que não existe alternativas para elas que não fazer o que ele mandar enquanto ele quiser :stuck_out_tongue:

Fábio "Mexicano"

É por isso que isso é um anime de zumbi, e não de idol :stuck_out_tongue:

Gato de Ulthar

E ainda não sabemos ao certo quais são as intensões dele né? Será apenas revitalizar a cidade de Saga? O cara mão me parece do tipo filantropo. Ou ele é um cuzão com as meninas e tem um bom coração e possui algum objetivo altruísta com isso tudo, ou ele é somente um interesseiro que por vez ou outras diz umas verdades bem doídas.
O super-legal é que a mensagem sobre elas ficarem paradas simplesmente apodrecendo funciona para TODOS nós!
Não somo zumbis, mas se ficarmos parados sem ir para lugar algum ou fazer algo de nossas vidas, invariavelmente vamos morrer ou apodrecer, no sentido literal e figurado diga-se de passagem.

Fábio "Mexicano"

Essa é a essência de uma história de zumbi, da forma como passei a entender o gênero após pesquisa ano passado. Os zumbis somos nós, ou são pessoas de outro modo reais que não queremos ver nem ter que lidar com, enfim.
Indo mais longe do que os zumbis, mas ainda relacionado: a criatura de Frankenstein também não pediu para ser criada, não pediu para viver. Mas uma vez que ela vive, ela têm conflitos e desejos, independente de estar presa ao cientista louco que a criou.

Diego

Então, meu ponto era mais que a mensagem não funciona muito bem justamente porque elas são zumbis :stuck_out_tongue: Não é como se elas estivessem estagnadas: elas literalmente não tem escolha. Ou fazem o que ele manda, ou, sei lá, vão vagar pela cidade tomando tiro de tudo que é canto.
É uma falta de agência que pra mim mina muito qualquer possível profundidade daquela fala.

Fábio "Mexicano"

A falta de agência, pode apostar, é apenas momentânea. E você também tem menos agência do que acredita.

Vinicius Marino

E você escolheu nascer, Diego? Escolheu ser brasileiro, surgir na família que surgiu, na classe social que habita? Nenhum de nós tem escolha na Terra. Você pode se matar ou fazer o melhor da própria vida, mas não tem como evitar apodrecer, definhar e morrer.
Os zumbis são uma figura poderosíssima (e super pertinente) da mitologia contemporânea

Diego

A questão é que nenhuma dessas garotas pode "fazer o melhor da própria vida". Elas podem ser idols. Exclusivamente idols. Não existe outra opção, outro caminho, outra alternativa. Elas podem ser isso ou podem ser isso, e é isso ai. Pra mim continua sendo uma situação bem diferente das "amarras sociais" que vemos no dia a dia.

Vinicius Marino

Poder elas podem, se estiverem dispostas a enfrentar O Único Policial da Cidade e disfarçar sua existência dos outros. Como o Fábio bem disse, zumbis também são metáfora para pessoas marginalizadas.
Para mim, no entanto, isso tudo é um build-up para a história do Pigmaleão. Em especial, a versão do George Bernard Shaw (https://pt.wikipedia.org/wiki/Pigmali%C3%A3o_(pe%C3%A7a_de_teatro), que inspirou o musical My Fair Lady.
Na mitologia, Pigmaleão foi um escultor que se apaixonou pela própria estátua e deu vida a ela. Na peça do Shaw, ele é um professor que resolve pegar uma garota da quebrada e transformar numa “lady”.
O twist é que quanto mais ela se emancipa, menos disposta a engolir o professor a garota fica. Até um ponto em que cai a ficha: “libertar” uma pessoa implica em deixá-la seguir seu próprio caminho. “Dar vida à estátua” significa que ela deixará de ser uma criatura.
Não se espantaria se um conflito desses desse as caras em Zombieland Saga. Não digo nem como moral final, mas talvez como um problema interno. Um obstáculo na darkest hour, aquela crise do último terço das histórias segundo a estrutura clássica dos três atos.

Fábio "Mexicano"

Zombieland está grávido de possibilidades. Talvez no final das contas não viva para realizar nenhuma mesmo, é totalmente possível. Mas as possibilidades estão aí, e nem são apenas esforço criativo nosso, são, como exemplos que eu e o Vinicius já demos, lugares já visitados pela literatura. E acho que deixou de ser só uma comédia exatamente naquela cena sobre a qual estamos discutindo até agora.

Gato de Ulthar

Gostei da expressão do Fábio, "grávido de possibilidades", e acho que isso definiu muito bem Zombieland Saga. Esse anime poderia ser apenas uma comédia "non-sense", o que também não seria ruim, mas preferiu, pelo menos um pouco, enveredar por um caminho mais existencial.
E devo concordar com o Fábio, dentro do contexto do anime, ser zumbi não difere de ser humano, principalmente no caso das meninas. Por elas terem despertado, só a Tae não fez isso, por algum motivo obscuro, elas diferem um tanto de um zumbi tradicional. Creio que a maioria dos zumbis na ficção possuem pouco raciocínio e uma sede por carne, preferencialmente humana. Já as garotas possuem todas suas faculdades mentais bem claras. Para mim, outra comparação adequada seria com o Frankenstein, da Mary Shelley, o livro, não o filme, onde a aberração criada passou por uma crise existencial bem séria, questionando sempre o fato de ter sido criada.
Além disso, as garotas possuem memórias do passado, tirando a Sakura que não lembra de muita coisa. Ficou bem claro que algumas delas possuem lembranças bem vívidas, como as ex idols.
A questão é, elas são basicamente o que eram antes de morrer, só ocorre que estão limitadas por sua aparência horripilante, o que é remediável, e o domínio do Koutarou, o que pode se tornar discutível ao longo do anime. Será que há uma possibilidade real delas abandonarem o cara? Ou será que só ele tem os poderes de as manterem "vivas" por assim dizer?

Diego

Tentar prever o que vem pela frente me parece bem difícil, francamente falando. Por exemplo, eu tento pensar em qual pode ser o final desse anime, e vou dizer que nenhum opção é particularmente feliz. Elas podem se tornar grandes idols e o anime encerrar ai, mas por algum motivo isso me soaria pouco satisfatório. Ou elas podem cumprir qualquer que seja sua missão e ai voltarem à não-vida, o que me soa bizarramente trágico para a comédia non sense que vimos até aqui. Ou elas podem dominar as habilidades de maquiagem e passar a viver para sempre nessa terra. Combinaria com a bizarrice toda, mas por algum motivo ainda não soa o final "ideal" para essa história, nem sei bem dizer porque.

Fábio "Mexicano"

Elas morreram, a tragédia já aconteceu, o que estão tendo é uma segunda chance. Se pensar assim talvez fique menos pior?

Gato de Ulthar

Segunda chance mesmo, elas nem tiveram direito sua primeira chance. A vida de todas foi tirada no auge. As famosas, como as ex-idols e a artista mirim morreram com as carreira crescente. O mesmo com a líder de gangue. A cortesã pelo que parece também era muito famosa. Só a Sakura que levava uma vida comum e morreu sem realizar nada, está vida de zumbi é sua verdadeira primeira chance de fazer algo na vida, ou na morte, que seja. E temos a Tae, mas não sabemos nada sobre ela.

Fábio "Mexicano"

Pelo menos agora acredito que ela não demore a despertar. Sua dubladora foi revelada e ela está cada vez menos aleatória, tentando acompanhar as outras até.

Gato de Ulthar

Mudando de assunto, o que vocês pensam que será o próximo passo do anime? Será que teremos um aprofundamento da questão existencial levantada neste episódio?

Diego

Tudo depende de se o arco das duas ex-idol será dado como resolvido ou não. Se sim, acho que o anime não deve tocar muito mais no assunto.

Vinicius Marino

A cena fatídica teve uma música própria, bem dramática. Acho bem difícil que eles tenham inserido uma faixa daquelas só para uma cena. O que me leva a crer que teremos novos momentos existenciais espalhados anime adentro.
Mas não acho que Zombieland seguirá muito forte nesse caminho tão cedo. Para todos os fins, espero mais comédia pastelona, com paródias de outros gêneros musicais e estilos de performance.

Fábio "Mexicano"

Paródias do gênero idol também, como o 3D horroroso apontado pelo Diego. Ou talvez eles melhorem a qualidade da animação conforme elas progridem como idols? Seria um toque interessante.
Quanto à seriedade, acho que o anime talvez tenha um ou dois arcos mais ou menos sérios, chutando alto. O normal deve ser comédia com um ou outro momento de seriedade.

Gato de Ulthar

Então teremos um misto de momentos sérios e pastelões.
E isso é uma coisa boa para uma comédia não é?
Há quem advogue que se o anime começou como algo pastelão deve terminar como pastelão, e que conteúdo mais sério serviria apenas para desvirtuar a obra.
Quanto a mim, uma comédia se torna ainda mais rica quando podemos sentir uma verdadeira empatia pelas personagens e seus "dramas" particulares.

Fábio "Mexicano"

Não sei quem pensa assim, mas é bobagem. Até comédias de absurdo dependem que simpatizemos com seus personagens para funcionar, e drama (ou "drama"), ainda que bastante diluído, é uma forma de conseguir isso. Nichijou, Squid Girl, Azumanga Daioh, Danshi Koukousei no Nichijou, Yotsubato (só tem mangá, infelizmente), e os hits de comédia da temporada passada Chio-chan no Tsuugakuro e Asobi Asobase são todos assim. A alternativa é ser apenas ofensivo, como Pop Team Epic, o que agrada algumas pessoas, mas me desculpem, é uma porcaria.

Diego

Concordo com o Fábio. Minhas comédias favoritas são justamente aquelas que conseguem incluir momentos mais sérios, que nos ajudem a simpatizar com os personagens. K-ON, por exemplo, se estamos falando de animes envolvendo um grupo de garotas :stuck_out_tongue:

Gato de Ulthar

K-ON é clássico! E o melhor exemplo possível :smiley:

Gato de Ulthar

Há gente reclamando que Zombieland Saga neste terceiro episódio perdeu um pouco da essência completamente insana e aleatória dos dois primeiros episódios, mas acho que não é bem assim, já que é muito cedo para afirmar que não teremos mais maluquices no show. Além disso, devo concordar com o Fábio e o Diego, um ou outro elemento sério é um ingrediente para uma comédia se tornar melhor ainda.

Vinicius Marino

Eu não tenho como concordar mais. E vou além: é justamente a mistura entre drama e comédia que faz uma boa comédia - em anime ou em qualquer outra mídia. Você vê isso no cinema, na literatura, no teatro desde os primórdios.
E sobre perder a essência nonsense? Direi só isso: esperem e vejam :grin:

Gato de Ulthar

Então é isso, agradeço a presença de todos e vamos esperar pelo próximo episódio, que pelo o que parece, prometes muita diversão!

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