Aoi Uroko to Suna no Machi - A simbologia das águas profundas.
O mar possui implicações simbólicas bem fortes na ficção, talvez pela capacidade de imersão que ele possui, já que uma pessoa afundando em sua imensidão é como um grão de areia jogado em um lago, logo desvanecendo em sua grandiosidade. O mergulho no mar também representa o reencontro consigo, como se mergulhasse dentro de sua própria mente, e isso não deixa de ser melancólico, não só pela vastidão azul, já que essa é a cor relacionada a melancolia, mas também pelo fato de que a contemplação muitas vezes leva ao abatimento. Vivenciando esta situação, a jovem Tokiko Aoyama buscou acalmar as águas turbulentas de seu coração em uma cidadezinha a beira-mar onde dizem haver sereias e tritões.
Aoi Uroko to Suna no Machi é um nome bem longo para decorar, então prefiro chamar só de Aoi Uroko mesmo. Esse título significa exatamente A Escama de Peixe Azul e a Cidade de Areia. Basicamente esse longo título dá uma noção do que é este mangá, já que se passa em uma cidadezinha litorânea onde lendas do passado se misturam com um evento misterioso na vida da protagonista que envolve seres mitológicos como sereias e tritões.
Em resumo, este mangá tem como enredo um pouco da vida da jovem Tokiko, que em uma viajem com a sua mãe quando ela tinha apenas quatro anos, acabou entrando no mar e quase se afogando, sendo salva por um tritão,ou pelo menos foi essa a sua impressão. Esse acontecimento marcou sua vida, sendo que ela quer encontrar o ser e agradecê-lo apropriadamente. Como a vida dá voltas, anos depois ela volta para a cidadezinha para morar com seu pai, depois que a mãe os abandonou, sendo a possibilidade perfeita para buscar um pouco mais sobre as sereias dos mitos, bem como buscar entender sua vida e superar o abandono de sua mãe, enquanto faz novas amizades e experimenta novos sentimentos.
Como já foi dito, a história de Aoi Uroko se passa em um lugarejo pesqueiro, notadamente calmo e relaxante, e essa é a impressão principal que esse manga passa, tudo é tranquilo e tem o seu próprio ritmo, como a vida que se desenvolve nessas pequenas cidadezinhas longe dos centros urbanos. Você pode até não gostar do mangá, o que eu acho muito difícil, mas não terá como dizer que ele não vai te fazer relaxar e contemplar, assim como fez Tokiko, seus momentos do passado, especialmente da infância. Pelo menos foi essa a doce sensação que tive ao ler esse mangá. E muito embora tenha um enredo com um mistério bem interessante, o mangá é prioritariamente sobre os sentimentos e emoções dos personagens.
A título de exemplo, um quadro que me marcou muito do ponto de vista sentimental, foi quando Tokiko contemplou com cuidado as lágrimas caindo dos olhos do seu pai, quando ficou acertado o divórcio com sua mãe e que morariam na cidadezinha. É o tipo de detalhe singelo que faz a leitura valer a pena, prender-se nesses detalhes é mergulhar tanto na história que estamos lendo como nas próprias ideias da autora, uma experiência muito agradável. E Aoi Uroko está repleto destes momentos, basta ler com calma e atenção, seguindo o próprio ritmo do mangá, que é calmo e relaxante.
Se eu pudesse definir esse mangá eu o classificaria como um slice-of-life com elementos místicos, e com uma boa dose de coming of age, ou seja, um enredo focado no desenvolvimento e amadurecimento da personagem principal. Falando um pouco mais sobre essa obra, o mangá é de autoria de Youko Komori, composto por 11 capítulos e 2 volumes, publicados originalmente na revista You, de 2013 a 2014, sendo esta uma publicação voltada à demografia josei, que é originalmente direcionada para jovens mulheres, mas que pode e deve ser lida por qualquer um interessado.
Antes de falar sobre qualquer outro aspecto de Aoi Uroko não posso deixar de mencionar o elemento mais importante da obra, o uso da água como simbolismo para o reencontro consigo. Em vários momentos da obra vemos a protagonista em reflexões a beira-mar. O interessante é que estando em contato com a imensidão do oceano azul é um ambiente super propício para reflexões e melancolia. Desta forma, a autora usou uma metáfora acertadíssima para mostrar todos os conflitos emocionais da jovem Tokiko, bem como, demonstrando que depois de uma tempestade as águas sempre se acalmam e tudo se resolve, servindo como outra metáfora para o amadurecimento da protagonista.
Em resumo, este mangá tem como enredo um pouco da vida da jovem Tokiko, que em uma viajem com a sua mãe quando ela tinha apenas quatro anos, acabou entrando no mar e quase se afogando, sendo salva por um tritão,ou pelo menos foi essa a sua impressão. Esse acontecimento marcou sua vida, sendo que ela quer encontrar o ser e agradecê-lo apropriadamente. Como a vida dá voltas, anos depois ela volta para a cidadezinha para morar com seu pai, depois que a mãe os abandonou, sendo a possibilidade perfeita para buscar um pouco mais sobre as sereias dos mitos, bem como buscar entender sua vida e superar o abandono de sua mãe, enquanto faz novas amizades e experimenta novos sentimentos.
Como já foi dito, a história de Aoi Uroko se passa em um lugarejo pesqueiro, notadamente calmo e relaxante, e essa é a impressão principal que esse manga passa, tudo é tranquilo e tem o seu próprio ritmo, como a vida que se desenvolve nessas pequenas cidadezinhas longe dos centros urbanos. Você pode até não gostar do mangá, o que eu acho muito difícil, mas não terá como dizer que ele não vai te fazer relaxar e contemplar, assim como fez Tokiko, seus momentos do passado, especialmente da infância. Pelo menos foi essa a doce sensação que tive ao ler esse mangá. E muito embora tenha um enredo com um mistério bem interessante, o mangá é prioritariamente sobre os sentimentos e emoções dos personagens.
A título de exemplo, um quadro que me marcou muito do ponto de vista sentimental, foi quando Tokiko contemplou com cuidado as lágrimas caindo dos olhos do seu pai, quando ficou acertado o divórcio com sua mãe e que morariam na cidadezinha. É o tipo de detalhe singelo que faz a leitura valer a pena, prender-se nesses detalhes é mergulhar tanto na história que estamos lendo como nas próprias ideias da autora, uma experiência muito agradável. E Aoi Uroko está repleto destes momentos, basta ler com calma e atenção, seguindo o próprio ritmo do mangá, que é calmo e relaxante.
Se eu pudesse definir esse mangá eu o classificaria como um slice-of-life com elementos místicos, e com uma boa dose de coming of age, ou seja, um enredo focado no desenvolvimento e amadurecimento da personagem principal. Falando um pouco mais sobre essa obra, o mangá é de autoria de Youko Komori, composto por 11 capítulos e 2 volumes, publicados originalmente na revista You, de 2013 a 2014, sendo esta uma publicação voltada à demografia josei, que é originalmente direcionada para jovens mulheres, mas que pode e deve ser lida por qualquer um interessado.
Antes de falar sobre qualquer outro aspecto de Aoi Uroko não posso deixar de mencionar o elemento mais importante da obra, o uso da água como simbolismo para o reencontro consigo. Em vários momentos da obra vemos a protagonista em reflexões a beira-mar. O interessante é que estando em contato com a imensidão do oceano azul é um ambiente super propício para reflexões e melancolia. Desta forma, a autora usou uma metáfora acertadíssima para mostrar todos os conflitos emocionais da jovem Tokiko, bem como, demonstrando que depois de uma tempestade as águas sempre se acalmam e tudo se resolve, servindo como outra metáfora para o amadurecimento da protagonista.
Aoi Uroko não é uma obra pesada em termos emocionais como o exemplo que vou citar a seguir, mas a comparação do simbolismo da água é bastante pertinente. Em 3-gatsu no Lion, o anime representa de maneira magistral a solidão do protagonista Kiriyama Rei utilizando o simbolismo dele mergulhando em águas tumultuosas. A água nesse anime serve como uma metáfora para a ansiedade e temores do rapaz, principalmente quando ele mergulha fundo nela e é vítima da pressão água e da sensação de sufocamento. A água nesse anime não é real, mas isso não tira a validade de sua comparação.
Além desse exemplo, curiosamente eu sempre acabo me deparando com mangás onde a água exerce uma influência simbólica bastante relevante, inclusive já escrevi para o Dissidência Pop em outras ocasiões sobre elas. Primeiramente eu poderia citar o mangá Undercurrent (UNDERCURRENT. MERGULHANDO FUNDO NA SOLIDÃO). Como o próprio nome do texto já diz, é um mergulho na solidão, que é igualmente representada pela água. Nesta história a protagonista tem que lidar com o sumiço do marido enquanto cuida da casa de banhos da família. É comum o uso de cenas com ela admirando a água ou entrando nela em alguma situação contemplativa.
O meu segundo exemplo é mais parecido com o enredo de Aoi Uroko do que com o simbolismo da água em si, mas mesmo assim dá para fazer alguns paralelos, esse mangá se chama Kaikisen, um mangá do famosíssimo e finado diretor Satoshi Kon (KAIKISEN. EMBATE ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE, Neste mangá de Satoshi Kon, o qual dirigiu Paprika e Perfect Blue, há também belas cenas imersivas dentro da água, onde o protagonista tenta compreender melhor seus sentimentos, além também, da própria questão da temática da sereia.
Outro bom exemplo, mesmo que não seja um mangá com texto no blog mas de um mangaká que aprecio bastante também, é Children of the Sea, de Daisuke Igarashi, onde a água exerce papel fundamental na trama como elemento espiritual e psicológico muito poderoso. Se alguém for parar para procurar encontrará inúmeros exemplos de mangás/animes que utilizam da temática da água para expressar algum conteúdo psicológico, ou seja, a água é uma metáfora poderosíssima para muitas coisas.
O meu segundo exemplo é mais parecido com o enredo de Aoi Uroko do que com o simbolismo da água em si, mas mesmo assim dá para fazer alguns paralelos, esse mangá se chama Kaikisen, um mangá do famosíssimo e finado diretor Satoshi Kon (KAIKISEN. EMBATE ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE, Neste mangá de Satoshi Kon, o qual dirigiu Paprika e Perfect Blue, há também belas cenas imersivas dentro da água, onde o protagonista tenta compreender melhor seus sentimentos, além também, da própria questão da temática da sereia.
Exemplo de Aoi Uroko to Suna no Macho onde a protagonista afunda na água. |
Outro bom exemplo, mesmo que não seja um mangá com texto no blog mas de um mangaká que aprecio bastante também, é Children of the Sea, de Daisuke Igarashi, onde a água exerce papel fundamental na trama como elemento espiritual e psicológico muito poderoso. Se alguém for parar para procurar encontrará inúmeros exemplos de mangás/animes que utilizam da temática da água para expressar algum conteúdo psicológico, ou seja, a água é uma metáfora poderosíssima para muitas coisas.
Voltando a falar do mangá, eu disse já disse que Aoi Uroko era um mangá sobrenatural, mas não é bem assim, pode ser que seja ou não, e isso nem é relevante. A autora se esforçou em deixar a existência do sobrenatural mais ambígua possível, deixando a cargo do leitor as interpretações quanto a isso. No meu ver isso apenas agrega positivamente ao mangá, fazendo o leitor interpretar o conteúdo e chegar em suas próprias conclusões. E como já foi explanado, o mangá é sobre o amadurecimento da Tokiko, todo resto é o pano de fundo e só, e um pano de fundo bem trabalhado diga-se de passagem.
Ocorre que há um mistério no mangá, e mesmo o aspecto de coming-of-age podendo parecer predominante, esse mistério a ser solucionado foi muito bem construído e trabalho, de forma que encaixasse com maestria dentro do enredo. A população da vila, menos as crianças, parecem guardar um segredo misterioso que se manifesta todo ano durante o festival em honra de uma divindade aquática e somente as crianças são proibidas de vislumbrar esse espetáculo. Acontece que essa trama se mistura com a questão das sereias levantada pela protagonista e tudo se torna uma doce conspiração, diante do caráter leve da obra.
Mas nem somente em Tokiko se resume o mangá, o pai dela também merece atenção, mesmo com pouco espaço de aparição. E não é só ele não, a mãe é digna de menção igualmente. São personagens que aparecem pouco, a mãe muito menos, mas que estão sempre presentes, seja de forma física, como ocorre com o pai, ou nos pensamentos e sonhos constantes de Tokiko. Esse é um conflito bastante espinhoso, é difícil para uma menina em idade escolar ter que encarar o pai abandonado e sempre tentando ser feliz e forte na frente dela, a sensação de estranheza para ela é muito forte.
Ocorre que Tokiko aprende muito ao longo da obra, tanto na forma de encarar o pai e como enterrar o fantasma da mãe. Por isso Aoi Uroko é tratado como um mangá coming-of-age, e mesmo dando para contar o número de personagens nos dedos, poucas foram as que tiveram um desenvolvimento completo ou perto disso, sendo a Tokiko uma destas poucas exceções. E isso não é uma crítica, longe disso, pois os que foram bem trabalhado foram excepcionalmente bem, mesmo sendo um elenco composto quase todo por crianças. É realmente muito difícil não entender os sentimentos e crescimento pessoal de Tokiko, isso sem abandonar a sua busca pelo tritão que lhe salvou.
Interessante também como a autora deu uma solução extremamente elegante para o mistério das sereias, inclusive servindo como um elo de ligação profundo entre ela e o seu amigo Narumi, sendo que desde o começo da obra ficou a clara a semelhança do rapaz com a criatura que a salvou, mas relaxem, o mistério não é tão simples como vocês podem estar imaginando. A autora também foi eficiente em criar vários twists ao longo do mangá, ou seja, criando pequenas reviravoltas e ganchos que tornam a leitura ainda mais prazerosa.
Outro elemento que contribui também para o bom resultado do mangá foi a arte de Youko Komori, a qual casou perfeitamente com a proposta de Aoi Uroko to Suna no Machi, por possuir um "quê" de minimalista, ajudando a criar uma atmosfera tranquila e relaxante. Os seus traços são bem ondulados, criando um design de personagens por vezes infantilizado, mas nada ao extremo, são desenhos muito bonitos, embora não muito detalhados. A ausência de traços angulados também ajuda a conferir serenidade à obra, e que combina com o próprio mar e suas ondas.
Ocorre que há um mistério no mangá, e mesmo o aspecto de coming-of-age podendo parecer predominante, esse mistério a ser solucionado foi muito bem construído e trabalho, de forma que encaixasse com maestria dentro do enredo. A população da vila, menos as crianças, parecem guardar um segredo misterioso que se manifesta todo ano durante o festival em honra de uma divindade aquática e somente as crianças são proibidas de vislumbrar esse espetáculo. Acontece que essa trama se mistura com a questão das sereias levantada pela protagonista e tudo se torna uma doce conspiração, diante do caráter leve da obra.
Mas nem somente em Tokiko se resume o mangá, o pai dela também merece atenção, mesmo com pouco espaço de aparição. E não é só ele não, a mãe é digna de menção igualmente. São personagens que aparecem pouco, a mãe muito menos, mas que estão sempre presentes, seja de forma física, como ocorre com o pai, ou nos pensamentos e sonhos constantes de Tokiko. Esse é um conflito bastante espinhoso, é difícil para uma menina em idade escolar ter que encarar o pai abandonado e sempre tentando ser feliz e forte na frente dela, a sensação de estranheza para ela é muito forte.
Ocorre que Tokiko aprende muito ao longo da obra, tanto na forma de encarar o pai e como enterrar o fantasma da mãe. Por isso Aoi Uroko é tratado como um mangá coming-of-age, e mesmo dando para contar o número de personagens nos dedos, poucas foram as que tiveram um desenvolvimento completo ou perto disso, sendo a Tokiko uma destas poucas exceções. E isso não é uma crítica, longe disso, pois os que foram bem trabalhado foram excepcionalmente bem, mesmo sendo um elenco composto quase todo por crianças. É realmente muito difícil não entender os sentimentos e crescimento pessoal de Tokiko, isso sem abandonar a sua busca pelo tritão que lhe salvou.
Interessante também como a autora deu uma solução extremamente elegante para o mistério das sereias, inclusive servindo como um elo de ligação profundo entre ela e o seu amigo Narumi, sendo que desde o começo da obra ficou a clara a semelhança do rapaz com a criatura que a salvou, mas relaxem, o mistério não é tão simples como vocês podem estar imaginando. A autora também foi eficiente em criar vários twists ao longo do mangá, ou seja, criando pequenas reviravoltas e ganchos que tornam a leitura ainda mais prazerosa.
Outro elemento que contribui também para o bom resultado do mangá foi a arte de Youko Komori, a qual casou perfeitamente com a proposta de Aoi Uroko to Suna no Machi, por possuir um "quê" de minimalista, ajudando a criar uma atmosfera tranquila e relaxante. Os seus traços são bem ondulados, criando um design de personagens por vezes infantilizado, mas nada ao extremo, são desenhos muito bonitos, embora não muito detalhados. A ausência de traços angulados também ajuda a conferir serenidade à obra, e que combina com o próprio mar e suas ondas.
Então é isso, espero que todos curtam mais essa recomendação, que vai especialmente para quem gosta de um bom slice-of-life com "algo mais", como um ritmo relaxante e sereno, personagens interessantes, drama e mistério na medida certa e uma arte bastante adorável. Youko Komori é uma mangaká na qual devemos prestar bastante atenção em seu lançamentos futuros, já estou de olho pra ler outro manga dela e quem sabe não rende mais um texto, não é mesmo?