Café com Anime - Junji Ito Collection Episódio 1


Bem vindos a mais um Café com Anime, desta vez com uma estreia, sobre o 1º episódio de Junji Ito: Collection. O que dizer de um anime que foi em certa medida esperado por mim com ansiosidade? Até hoje todo mundo esperava uma adaptação decente das obras do mestre do horror Junji Ito. Será que a espera foi recompensada?

Para responder esta difícil questão eu, Gato de Ulthar, juntamente com o Diego do É Só Um Desenho, o Vinicius do Finisgeekis e Fábio "Mexicano" do  Anime21, nos reunimos do Café com Anime,

Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. 

Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leio nosso post introdutório:

CAFÉ COM ANIME - ESCOLHAS E EXPECTATIVAS PARA A TEMPORADA DE JANEIRO DE 2018.

O Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Mahoutsukai no Yome e Junji Ito: Collection, enquanto o É Só Um Desenho ficou responsável por Kokkoku. Já o Finisgeekis publicará nossa conversa sobre Cardcaptor Sakura: Clear Card-Hen. E no Anime21, temos as discussões sobre Violet Evergarden.


Também é possível acompanhar o Café com Anime e as conversas publicadas por aqui: Análises Semanais - Café com Anime, onde há um menu para acessar todos os episódios analisados, a medida quem forem lançados.

Gato de Ulthar-

Olá a todos, Aqui quem vos fala é Gato de Ulthar e estamos dando início a mais um Café com Anime, desta vez sendo uma estreia muito esperada por mim, Junji Ito: Collection. Como o nome já afirma logo de cara, o anime será composto por uma série de adaptações de obras de junji Ito, um dos maiores expoentes do terror nos mangás, fortemente influenciado por H.P Lovecraft, sendo suas obras mais famosas Tomie, Gyo e Usumaki.
Mas bem, vamos falar um pouco sobre esta estreia. Tivemos duas histórias de Ito adaptadas, As Convenientes Maldições de Souchi, que tomou quase todo o episódio, e nos minutos finais uma pequena esquete sobre uma menina amaldiçoada que se tornou uma boneca.
A animação não é um primor, bem longe disso. Bem como, penso que a arte de Junji Ito funciona muito melhor no mangá. A abertura foi bem anime, e teve abertura no primeiro episódio! O que é raro nos animes atualmente.
Eu, particularmente, achei a segunda esquete a melhor, demonstrou com maestria aquele horror que caracteriza a obra de Ito, já que As Convenientes Maldições de Souchi foi mais engraçado do qualuqer outra coisa :stuck_out_tongue: Soichi é um moleque super esquisito com uma auto estima doentia!
Então, qual a opinião dos meus caros amigos sobre esta estreia?

Vinicius Marino-

Acho que Souchi é o tipo de personagem que eu esperaria de Eu Sou Sakamoto. O problema, claro, é que aquele era um anime de comédia.

Gato de Ulthar-

Não sei se foi uma boa história para se começar o anime.
Já que foge da "linha" do Junji Ito.

Diego-

Esta foi, de longe, a pior estreia que eu vi até o momento. A história do chupa-pregos já leva o prêmio de ter um dos piores monólogos expositivos do ano. Adicione a isso um protagonista que é apenas irritante (eu sei, era pra ele ser, mas é aquilo, porcaria proposital continua sendo porcaria), vários momentos de pura vergonha alheia, e uma péssima direção, e eis que o resultado foi sofrível de assistir. A segunda esquete ao menos foi engraçada. Ri alto com o WTF que ela foi.

Fábio "Mexicano"-

Péssima direção? Eu entendo de onde vêm suas demais críticas, mas direção?
Enfim, quanto a ser expositivo eu não vejo problema nenhum. É intencional, intrínseco ao gênero, e eu realmente acho que funciona melhor assim.
Claro que não é dos contos mais brilhantes do Junji Ito, e isso não ajuda, mas a narrativa não é muito diferente mesmo nos contos mais aclamados dele que por acaso eu li.

Gato de Ulthar-

E o Souchi pode voltar a aparecer, ele é um personagens que aparece em vários contos do Junji Ito, e é relativamente bem popular. Eu li outros contos em que ele é o personagem que gostei bem mais, esse realmente não é a melhor obra em que ele aparece, cito o conto "Souchi's Beloved Pet, onde a família do Souchi adota um gatinho e por ciúmes Souchi amaldiçoa ele, o que faz que o gato fique muito louco, soltando grandes nuvens de pelos e indo buscar presas inomináveis no inferno. Inclusive tive um gato que teve o nome do referido gato do conto, Colin.

Fábio "Mexicano"-

De todo modo, o Souchi e sua série de contos de maldições não são uma história de assustar. No máximo provocam fobias em quem as têm - imagine quem tem pavor de aranhas vendo esse episódio.

Gato de Ulthar-Último Sábado às 20:46

Sim, assustar não é o objetivo, longe disso :stuck_out_tongue: Os contos do "Souchi", se eu puder chamá-los assim, possuem uma pegada mais humorística mesmo, mesmo que seja um sutil humor negro.

Vinicius Marino-

Eu preciso concordar com o Diego. Como introdução ao Ito, esse episódio me deixou com um gosto amargo na boca. Arte feia, dublagem caricata, um andamento arrastado que prejudica até o valor cômico. Pareceu um daqueles filmes B bagaceira de terror. Eu entendo que pode ter sido a proposta, mas é o tipo de obra em que eu não vejo mérito algum.
Saber que o Souchi voltará no futuro me deixa exasperado quando a essa série, na verdade.

Fábio "Mexicano"-

Não creio que a arte vá mudar, ou mesmo o estilo de interpretação caricata.

Vinicius Marino-

A arte eu suporto. A dublagem ruim, nem tanto (Japão tem padrões bem altos quanto a isso). Mas o roteiro filme B de terror é algo que eu simplesmente não tolero. É o tipo de gênero que chega a me dar sono.(editado)

Fábio "Mexicano"-

Isso aí pode mudar dependendo do conto. Mas alguns elementos acho que já estão estabelecidos e já dá pra extrapolar a partir desse episódio sim.

Diego-

Antologias podem ser seus altos e baixos, tudo bem. Talvez episódios futuros sejam melhores (eu espero que sejam). Mas este definitivamente não prendeu, e francamente, não fosse pelo Café eu provavelmente teria dropado o anime sem nem terminar o primeiro episódio.
Sobre o que eu falei da direção ruim, eu senti muito isso nos cortes. Alguns deles eram ridiculamente confusos, mesmo espacialmente falando. Entre o cupa-pregos querendo extorquir o moleque de camisa amarela e o mesmo mandando o primeiro ir pastar o cenário inteiro muda, sugerindo que eles foram para outro lugar - o que apenas soa muito idiota, imaginar que o moleque levou o menino das maldições pra outro local só pra falar um "para de me encher" e sair andando.

Fábio "Mexicano"-

Eu não fiquei com essa impressão, eita. Me pareceu que eles estavam andando na saída da aula e coisa e tal

Vinicius Marino-

O que eu não consegui entender foi o equilíbrio entre as histórias. De um lado, temos um conto moroso, repetição de uma piada sem graça, que mal ocuparia metade de um episódio, quanto mais os 15-20 minutos que tomou. Do outro, um conto promissor que parece acabar antes mesmo de começar.
Juro que pensei que o curta da boneca fosse uma prévia do episódio seguinte enquanto o assistia.

Fábio "Mexicano"-

Eu também achei :smile:
Mas fui ler depois, e ele é super curto mesmo. Aquilo é tudo. Claro que no mangá ainda ficou melhor, mas acho que até as falas foram copiadas letra a letra (ou kana a kana, kanji a kanji) do mangá. Já o Souichi, para nossa alegria, tem várias histórias!

Vinicius Marino-

Junji Ito Collection, até agora, me pareceu um grande filler. A própria decisão de incluir o opening no primeiro episódio fede a uma produção sem conteúdo para preencher um único segmento.

Diego-

E notem que, pelo preview, o próximo episódio também será composto de duas histórias

Fábio "Mexicano"-

Isso foi uma bola que a gente já tinha cantado nas expectativas, né

Gato de Ulthar-

Também não percebi esses erros de direção que o Diego apontou. Quanto ao equilíbrio entre as duas esquetes que o Vinicius apontou, ai a coisa é mais complicada. Como o Fábio disse, a fonte original do segundo conto é pequeníssima, apenas algumas páginas e deu, nem havia mais o que animar. Teria sido melhor fazer uns 10 mini-contos no episódio? Ou pelo menos 2 maiores e o pequenino para fechar? De qualquer forma, essa é a realidade de Junji Ito, alguns contos pequenos de até 5 páginas e outros maiores, de até 50 ou 60 páginas, isso tirando suas obras maiores, que são minoria, como Tomie e Uzumaki.
Mas temos que esperar para ver, assim como Kino na temporada passada, um anime pode errar muito na ordem de estórias episódicas. Talvez sejamos surpreendidos positivamente no próximo episódio.


Gato de Ulthar-

Mesmo tendo esperanças com esse anime, devo deixar claro o meu pesar. Não creio que foi uma adaptação digna de Junji Ito, isso por diversos fatores. É sabido que muitos mangás são complicados de serem adaptados, bem como, a arte de alguns mangás não "funciona" animada. Acho que os mangás de Junji Ito possuem um pouco destas duas situações. Não sei se é impressão minha mas este conto das maldições de Souchi ficou muito melhor na versão original. O estúdio apenas animar a sombra no olho dos personagens como no mangá me pareceu muito "falso".

Fábio "Mexicano"-

A animação é de baixa qualidade, ponto.

Gato de Ulthar-

Em resumo :stuck_out_tongue:

Fábio "Mexicano"-

Não é nem questão de bem ou mal adaptado, eu acho, é uma animação barata, fraca mesmo.

Gato de Ulthar-

Movimentos pouco fluídos, expressões estranhas, cenários mais ou menos....
Ah sim.

Fábio "Mexicano"-

O ar de "tosquice" até que combinou com o Souichi, mas tenho um pouco de medo de imaginar uma história mais séria com esse nível de arte. Amigara Falls assim? Por favor, não...

Diego-

Vou dizer que eu mal reparei na animação, talvez pela irritação que já sentia com todo o resto rs. O estilo de arte me pareceu bem... normal. O tipo de arte que eu esperaria de um anime de terror, francamente falando.


Gato de Ulthar-

Não se tem um estilo de arte para um anime de terror. Nem é esse o ponto que quero frisar, acho que a animação é ruim mesmo, com poucos recursos.

Gato de Ulthar-

Mudando um pouco de assunto, nada se salva em Junji Ito: Collection? Quais os pontos positivos que vocês podem apontar deste episódio (caso houver)? Eu por exemplo achei a segunda esquete bem interessante, um conto curto mas bem fechadinho, com uma rápida contextualização, exposição do problema e resolução sinistra.

Diego-

Francamente falando? Quando muito a segunda esquete foi uma boa comédia involuntária. E é só o que eu tenho de positivo pra dizer desse episódio.

Gato de Ulthar-

O Diego é muito duro! :smiley: Não consegui vê-la como comédia.

Fábio "Mexicano"-

Eu gostei do pateta do Souichi. O episódio inteiro "se salvou". Nada espetacular, mas me diverti.

Diego-

Eu ri alto só pelo absurdo da situação da segunda esquete, Gato :smile:

Gato de Ulthar-

Entendo Diego, só estou zoando mesmo :stuck_out_tongue: Mas bem, não foi um episódio de todo ruim, até deu para se divertir um pouco.


Vinicius Marino-

A segunda esquete foi "interessante", mas poderia ser mais interessante com algum desenvolvimento. Por exemplo, se ela se alongasse na vida da família antes da transformação. É um princípio adotado por muitos filmes de terror: criar uma expectativa de normalidade para depois quebrá-la da forma mais chocante possível. Muitos clássicos do gênero não teriam o mesmo impacto se começassem logo na ação. Já imaginou um O Homem de Palha começando na cena de sacrifício? Uma Carrie, A Estranha que se limitasse à cena do baile?
Sei que o mangá original já era assim, mas insisto na crítica. A história do Ito, portanto, é o problema.
Espero que as esquetes subsequentes tragam um pouco desse desenvolvimento podado.

Gato de Ulthar-

Entendo a crítica, embora eu não compartilhe com esse seu entendimento específico. Claro que daria para criar uma narrativa mais longa e adentrar em mais aspectos e tal, mas não foi esse o caso e Junji Ito fez um trabalho muito bom com apenas 6 páginas!
Esse tipo de narrativa me lembra alguns contos de Lovecraft, igualmente de poucas páginas, no qual há apenas um relato vívido de algum acontecimento anormal, por exemplo, um homem que envia uma carta desesperada depois de dormir em uma casa onde estranhos sussurros o perturbaram constantemente. Ele não explica absolutamente nada, apenas diz o que aconteceu naquela noite. A falta de explicação não faz a mínima diferença, já que não era o objetivo desenvolver nada além de uma experiência de horror. Lembrando que a maioria dos contos de Lovecraft são narrados em primeira pessoa, então, na maioria dos casos apenas sabemos as impressões pessoais do protagonista.
Junji tentou a mesma coisa, apenas dar uma "impressão" de um acontecimento horrível. E mesmo assim, a pequena história tem tudo que precisa ter. A descrição sucinta do drama familiar e a transição da filha em boneca e posteriormente em um horror inimaginável.
Mas de qualquer forma, a maioria dos contos de Junji Ito são maiores e possuem um mínimo de desenvolvimento.

Vinicius Marino-

Meu problema não é a falta de explicação, mas de empatia com as personagens. Eu ficaria muito mais chocado com essa tomada final se tivesse tido um vislumbre da filha vivendo como uma menina (e não só uma foto num porta-retrato).
Nem acho que a história precisaria ser longa. Vide por exemplo o curta de animação Alma (que também envolve uma menina transformada em boneca): https://www.youtube.com/watch?v=tECaYQ1AzkM
Não vou contar o twist para não dar spoilers aos leitores. Mas percebam como, só por nos mostrar a criança correndo pelos cantos antes da ação começar, já faz toda a diferença. E isso em um filme de 5 minutos!

Gato de Ulthar

Entendi. Caso houvesse minimamente alguma interação familiar, especialmente da menina, a empatia gerada seria maior? Pode ser, talvez se tivessem colocado pelo menos uma curta cena com algo do gênero o resultado teria sido melhor. Não sei se você leu o mangá original, mas ele é realmente fiel à animação, embora tenha uma ou outra informação ou quadro que não foi animado, como a afirmação de que a doença das bonecas afetou 1/3 das crianças no mundo.

Fábio "Mexicano"-

Hahaha, adorei esse Alma! Mas bem, não achei que ele fosse uma história de horror? Quero dizer, ok, tem suspense e ... é, bom, quem assistir entende. Mas me pareceu mais com uma história infantil, pra assustar crianças para que sejam mais obedientes e corretas? Vocês sabem como não faltam histórias e canções infantis folclóricas que servem exatamente a esse propósito. Me pareceu que Alma emula isso, cria algo novo com essa ideia, essa estrutura em mente.
Mas ok, é feito para assustar e assusta. A menina da esquete que virou boneca só causa repulsa mesmo, e talvez fosse essa a intenção.
Embora também sirva, de forma limitada, como uma história de alerta, né? Algo como, "há uma razão para as pessoas fazerem o que fazem - queimar os filhos assim que se tornam bonecas".

Vinicius Marino-Última Quarta-feira às 14:07

Eu prefiro vê-la como um retrato do desespero humano. Pais que amam tanto a filha que fraquejam em "poupá-la" e acabam sofrendo os horrores das consequências. Não me parece ser uma história "moral" - tal como a ficção do Lovecraft, a despeito das opiniões políticas fortes do seu autor, não era também muito moralizante.

Fábio "Mexicano"-

Como eu disse, pode ser encarada dessa forma. Não que seja a forma como eu a interpreto.

Vinicius Marino-

Mas só para voltar no ponto que o Cat levantou, eu acho que esse é um dos motivos pelos quais o horror e outras obras "de gênero" frequentemente não são levados a sério. Muitas vezes (nem sempre, vale destacar!) elas focam exclusivamente nas ideais que trazem e não nas pessoas que as povoam. Dizer que 1/3 das meninas virou boneca não me significa nada. É o tipo de informação que eu encontro na Wikipedia, quando leio que a Peste Negra matou metade da Europa, ou que 4% dos franceses morreram na Primeira Guerra Mundial. Ver UMA garota por quem eu me importo se transformar em boneca, por outro lado, faz toda a diferença. É essa sensibilidade humana que está por trás das grandes obras.
Claro, isso é uma crítica que não cabe ao Junji Ito. Ele escreve horror, e é pelo viés do horror que devemos interpretá-lo. Seria injusto desmerecê-lo por restrições em relação ao seu gênero.

Fábio "Mexicano"-

Tanto mais em uma obra tão curta, praticamente um ensaio, um treino. Vejo esses contos curtíssimos do Junji Ito como rascunhos que artistas plásticos fazem às dezenas entre uma obra completa e outra.


Diego-

Não acho que um maior destaque na menina mudaria muito, honestamente. Ela virar uma boneca é uma ideia tão absurda que não tem como levar a sério, então pelo meno pra mim não tem como ela soar mais ou menos impactante, eu ia rir de qualquer jeito :P

Fábio "Mexicano"-

Diego é horror-cético

Gato de Ulthar-

O Diego é muito sério!
Mas bem, acho que tudo que tinha de ser dito deste primeiro episódio de Junji Ito: Collection já o foi. Acho que é unânime que está milhas longe de ser uma das melhores estreias, possui diversos problemas, mas não é de todo ruim, proporcionando momentos agradáveis e até cômicos, para alguns pelo menos.
Fico um pouco decepcionado, pois esperava uma adaptação um pouco mais digna da obra de Junji Ito, embora soubesse que isso seria difícil de acontecer. Também fico triste por poder ser um meio ruim para quem não conhece o autor tomar conhecimento de seu trabalho.
Mas, como nem tudo são lágrima, este foi o primeiro episódio, e poder ser que as coisas se ajeitem no decurso do tempo, é só esperar para ver. Até a próxima!

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