Café com Anime - Junji Ito Collection Episódio 3


Bem vindos a mais um Café com Anime, desta vez conversamos sobre o 3º episódio de Junji Ito: Collection. Parece que tivemos o melhor episódio até agora, afastando um pouco a memória do lamentável primeiro episódio.  Eu, Gato de Ulthar, juntamente com o Diego do É Só Um Desenho, o Vinicius do Finisgeekis e Fábio "Mexicano" do  Anime21, nos reunimos do Café com Anime para conversar sobre esse polêmico anime.

Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. 

Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leio nosso post introdutório:

CAFÉ COM ANIME - ESCOLHAS E EXPECTATIVAS PARA A TEMPORADA DE JANEIRO DE 2018.

Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Mahoutsukai no Yome e Junji Ito: Collection, enquanto o É Só Um Desenho ficou responsável por Kokkoku. Já o Finisgeekis publicará nossa conversa sobre Cardcaptor Sakura: Clear Card-Hen. E no Anime21, temos as discussões sobre Violet Evergarden.


Também é possível acompanhar o Café com Anime e as conversas publicadas por aqui: Análises Semanais - Café com Anime, onde há um menu para acessar todos os episódios analisados, a medida quem forem lançados.

Gato de Ulthar-

Pois bem, não é que chegamos no episódio três de Junji Ito: Collection? Como é de praxe, o anime nos apresenta duas histórias curtas, O Moço Bonito da Encruzilhada e o da Garota Lesma.
A primeira esquete tomou a maior parte do episódio, pouco mais de dois terços. Foi uma história com bastante suspense, até que foi bem séria para os padrões de Ito. Gostei do fato do protagonista ter sobrevivido e salvado a mocinha, mas teve seus momentos esquisitos. Além disso, senti que ficou um pouco arrastada.
O conto da Garota Lesma foi o que me fez mais rir até agora, aquilo foi muito insano. Como já ficou claro, medo é uma coisa difícil de sentir com as histórias de Ito, não que isso seja um problema, me basta o absurdo. Essa esquete foi bem curta, não tão curta quanto a da garota que virou boneca. Com mais tempo de cena proporcionou um resultado final mais completo. Lembrou-me bastante Uzumaki, onde lesmas e caramujos eram bem frequentes...
Então, qual foi a opinião dos meus caros colegas sobre este episódio?

Diego-

A primeira esquete foi... ok, eu acho. Um pouco arrastada e mesmo um tanto quanto aleatória (os fantasmas das garotas aparecendo... ta), mas ainda aceitável (só queria um final de alguém metendo a porrada no moleque gótico trevoso, mas fazer o que, né). Já a segunda esquete... ugh. Ok, vamos lá, eu entendo que o ponto do negócio é ser nojento e desconfortável, e tudo bem, ele faz isso. Mas eu realmente não entendo o apelo desse tipo de história, francamente falando. Bizarrice por bizarrice, estaria melhor vendo uma comédia.

Gato de Ulthar-

Não consigo não concordar em partes com o posicionamento do Diego quanto à primeira esquete. Em relação à segunda, eu até entendo o seu posicionamento, afinal de contas é uma questão de gosto, você simplesmente não aprecia esse tipo de abordagem nojenta e desconfortável e deu, mas há público pra isso.
Eu gosto bastante :stuck_out_tongue:

Vinicius Marino-

Ok, antes de mais nada, preciso fazer um mea culpa em relação ao que disse antes sobre o anime. O Ito, agora percebo, é um daqueles artistas que desenham "subjetivamente". O visual de suas personagens não representa seu físico real, mas seu estado de espírito. Foi o caso da stalker obcecada da primeira esquete, do mocinho ao se obcecar com o Moço Bonito e do próprio dito cujo, sempre cercado por névoa. Foi também o caso do paciente insone do episódio passado, que admito que interpretei errado.
Agora que já tirei isso do meu sistema, deixa eu ser direto: esse foi meu episódio favorito da série até agora. Achei tão bom que redimiu minhas ressalvas com o primeiro e o segundo episódio.
Esse é um daqueles episódios que faz o Café com Anime valer a pena. Não fossem vocês, eu teria dropado essa obra depois daquela estreia mais do que problemática.
Primeiro esquete trouxe uma vibe xxxHolic, com uma daquelas superstições "inocentes" que traz um subtexto tenebroso. E a segunda... bem, foi tudo o que eu queria que a esquete da boneca tivesse sido. Apesar de ser curta, nós realmente simpatizamos com a família e a garota o suficiente para nos arrepiarmos com a transformação.
(Numa nota pessoal: eu tive a infeliz ideia de assistir esse episódio num lobby lotado de aeroporto. Depois de alguns minutos, percebi que era melhor jogar o vídeo no celular e assistir na surdina. Se tivesse continuado no laptop, talvez tivesse causado um pânico coletivo rs).

Fábio "Mexicano"-

Gosto do tema "lendas urbanas", que é o da primeira esquete. Não tem "solução"? Sei lá, tenta pensar em uma "solução" pra loira do banheiro. Na prática, ele teve a única solução boa possível: o casal principal se salvou. Se vão construir algo a partir dali foge ao escopo do conto.
O segundo foi tipicamente grotesco, só para nos fazer sentir desconfortáveis mesmo. E não só porque é nojento, como o episódio da boneca, mas porque, como bem disse o Vinicius, o anime construiu os personagens o suficiente para que nos importássemos com eles. É nojento e é triste. Essa tristeza faltou no conto da boneca. Também achei esse o melhor episódio até agora.

Gato de Ulthar

Eu demorei para admitir se este era ou não o melhor episódio até o momento. Mas lendo o comentário dos meus amigos e refletindo um pouco melhor, creio que não há como duvidar disso.
O tipo de lenda urbana apresentada na primeira esquete é algo bastante característico da ficção do Japão, talvez algo oriundo da grande espiritualidade que os japoneses conferem aos lugares, como ruas, becos, cheios de espíritos protetores e outras criaturas menos sociáveis.
E não havia nada o que fazer mesmo né? O que o cara poderia ter feito? Socado o rapaz da névoa? Isso funcionaria? Eu acho que não. Sobreviver foi o melhor dos cenários. Isso também mostra que as lendas são algo que não somem tão facilmente, elas se perpetuam no tempo, as vezes assumindo uma forma diferente, mas sempre continuam lá. E é verdade, lembrou bastante xxxHolic, com seus cados macabros! Claro que a pegada dos animes é diversa, mas o clima nebuloso e o sobrenatural urbano formam um paralelo inegável.

Diego-

Vou ter de discordar do título de "melhor episódio": para todos os efeitos, acho que ainda prefiro o da semana passada (embora é aquilo, para mim ele foi mesmo é o "menor pior", não o "melhor" kkkkkkk)

Gato de Ulthar-

O Diego com suas bem conhecidas críticas mordazes ao anime :P
Brincadeiras à parte, mesmo que considere este o melhor episódio até agora, é difícil taxar o anime em si como realmente bom. Ele definitivamente está melhorando, acertando na escolha das adaptações. E como o Vinicius disse, sorte de quem não desistiu já no primeiro episódio.
As obras de Junji Ito são muito variadas, como já deu para perceber, transitando entre o horror puramente grotesco, sem grandes aspirações filosóficas, até em profundas narrativas psicológicas, onde a aura de mistério e do medo do desconhecido são acentuadas. Ito também absorve muito do folclore japonês e de suas tão famosas lendas urbanas, como aconteceu no último episódio. Isso sem falar nos toques sutis de comédia, que lhe são característicos.
Escrevi tudo isso para perguntar algo até bem simples, vocês acham que há possibilidade do anime se encontrar e manter um nível de qualidade aceitável até o seu término? Ressalvadas as limitações oriundas de uma produção sem muitos recursos.

Fábio "Mexicano"-

Possível sempre é, mas acho que estamos partindo da premissa errada. Nós estamos achando o anime, na média, ruim, e se os produtores pensassem como nós certamente iriam querer melhorá-lo, na medida do possível. Mas eu acredito que não seja o caso. A animação ruim, a dublagem ruim, a escolha das esquetes, acredito que tudo isso é proposital. Acredito que estejam satisfeitos com o resultado. Por isso não vão mudar: teremos episódios que acharemos melhores, teremos episódios que acharemos piores, e tudo isso faz parte do mesmo produto, nada é "acidente".

Vinicius Marino-

Há uma possibilidade, se eles escolhessem as esquetes adequadas. Porém, como vimos em Kino trimestre passado, os estúdios parecem montar a grade de episódios colocando todos os nomes num saquinho e escolhendo o primeiro que pescam.
Talvez eu tenha sido contaminado pela "Era de Ouro da TV" americana, cujas séries mostram uma coerência impecável. Mas estou achando estranho a aparente irracionalidade das escolhas de alguns animes. Pergunto-me se isto não têm a ver com o ritmo alucinante de produção dessas séries, ou com falta de comunicação entre a equipe.
Lembro-me de ter lido entrevistas de criadores de Cowboy Bebop que alegaram coisa do tipo (e a série, a despeito da fama cult, de fato sobre com inconsistências)

Fábio "Mexicano"-

Kino no Tabi teve uma razão para ser daquela forma: foi escolha dos fãs que já conheciam a novel. E Junji Ito provavelmente tem uma razão também. O fato de estarmos sentindo que o anime vem crescendo de qualidade é possivelmente sinal de algo intencional. Mesmo assim, entendi o que você quis dizer - lógico que não é totalmente aleatório, mas em todo caso são escolhas muito menos do que ótimas.

Vinicius Marino-

Se eu passei essa impressão, deixe eu me desmentir: não acho que o anime está "crescendo" em qualidade. Tivemos uma estreia horrorosa, um segundo episódio medíocre e um terceiro muito bom. Até onde eu sei, a bolsinha com os nomes pode ainda estar em efeito. O quarto episódio pode ser um lixo; o quinto, medíocre e assim por diante.

Fábio "Mexicano"-

Me referi aos três episódios de abertura. É claro que pode piorar, e acho que pela natureza episódica do anime, é provável que seja uma montanha russa. Mas acho que cada conto foi cuidadosamente selecionado para cada episódio. Produtores de anime estão cientes da "regra dos três episódios", afinal. O que vem depois não importa.

Gato de Ulthar-

De qualquer forma, só nos resta esperar para ver o que sairá desse balaio de gato. Espero que os próximos episódios mantenham o nível de qualidade deste terceiro! Assim, não importa se for o esquema da bolsinha com os nomes dos episódios ou mera deliberação dos produtores!
Outra coisa que eu queria comentar é sobre algo que o Vinicius disse lá no começo de nossa conversa: "O visual de suas personagens não representa seu físico real, mas seu estado de espírito. Foi o caso da stalker obcecada da primeira esquete, do mocinho ao se obcecar com o Moço Bonito e do próprio dito cujo, sempre cercado por névoa. Foi também o caso do paciente insone do episódio passado [...]"
Eu particularmente concordo com essa interpretação, e aprecio bastante o uso deste elemento. Minha pergunta é, será que este é um modo bom de representar uma história de terror? Com a transfiguração dos personagens? Ou seria melhor manter a aparência intacta deles na medida do possível?
Destaco a menina "stalker" que ficou com aparência de moradora da Cracolândia:

Fábio "Mexicano"-

Eu acho que funciona bem, mesmo se você interpretar como mudança física de fato. É horror, e eles ficam bastante horrorosos, acho...

Vinicius Marino-

Olha, considerando que a produção desse anime não é lá das melhores, eu acho que ficaria muito difícil passar o mesmo efeito sem esse recurso. Talvez se ele adotasse uma abordagem inversa, e fizesse o ambiente parecer assustador (que nem faziam os filmes de terror de antigamente, carregando nas sombras e nos jogos de câmera)
Acho até uma escolha interessante se pensarmos que esse é o mesmo recurso de uma das artes mais tradicionais japonesas: o teatro Noh. Nesse tipo de teatro, os atores usam máscaras expressivas, que mudam de sentimento dependendo da forma como são utilizadas. Dependendo do papel, podem também vestir máscaras diferentes, representando a mudança da personagem em outra coisa (os efeitos da loucura, a morte, uma possessão demoníaca, etc)

Diego-

Só me pergunto se no universo da obra os personagens também vão ficando com aparências bizarras... Se sim, faltou alguém apontar isso nesse episódio (no anterior foi bastante apontada as mudanças físicas do paciente), e se não, eu não realmente acho lá um bom recurso. Se mais nada deixa muito "na cara" o quanto o anime está se esforçando para ser "desconfortável" ou "assustador" ou sei lá. Soa mesmo bem artificial e um tanto quanto manipulativo.

Gato de Ulthar-

Junji Ito: Collection está proporcionando opiniões bastante diversas, tem quem odeio e quem ainda ache que esse anime pode ser no mínimo "assistível", mas bom? É muita pretensão chamar esse anime de bom, mas eu particularmente o acho divertido e espero que tenhamos sorte que sua qualidade não decline! Contudo, só nos resta esperar, até a próxima!

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