Café com Anime - Junji Ito Collection Episódio 4


Bem vindos a mais um Café com Anime, desta vez conversamos sobre o 4º episódio de Junji Ito: Collection. Parece que o anime está encontrando o seu caminho, depois do bom episódio passado, tivemos outro episódio competente. Claro que o anime deixa em desejar em qualidade técnca, mas está longe de ser considerado ruim. Para conversar um pouco sobre isso, eu, Gato de Ulthar, juntamente com o Diego do É Só Um Desenho, o Vinicius do Finisgeekis e Fábio "Mexicano" do  Anime21, nos reunimos do Café com Anime para conversar sobre esse polêmico anime.

Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. 

Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leio nosso post introdutório:

CAFÉ COM ANIME - ESCOLHAS E EXPECTATIVAS PARA A TEMPORADA DE JANEIRO DE 2018.

Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Mahoutsukai no Yome e Junji Ito: Collection, enquanto o É Só Um Desenho ficou responsável por Kokkoku. Já o Finisgeekis publicará nossa conversa sobre Cardcaptor Sakura: Clear Card-Hen. E no Anime21, temos as discussões sobre Violet Evergarden.


Também é possível acompanhar o Café com Anime e as conversas publicadas por aqui: Análises Semanais - Café com Anime, onde há um menu para acessar todos os episódios analisados, a medida quem forem lançados.

Gato de Ulthar-

E aí pessoal? Tudo bem? O que dizer deste episódio? Não sei se posso dizer que este foi um episódio melhor que o anterior, mas mesmo assim ele ficou bem bacana. O primeiro conto conseguiu transmitir uma "aura" de terror cósmico bem eficiente, com o uso de mistérios arcaicos e inacessíveis ao conhecimento humano. Ele só perde um pouco de qualidade com certas soluções de enredo forçadíssimas, como quando o amigo chega no quarto do protagonista e por acaso encontra um livro do avô dele que contém informações sobre o mistério, sendo que o protagonista nunca tinha visto esse livro na própria estrante. Do segundo conto eu gostei mais, o mote de que são as marionetes que controlam os ventríloquos e não os ventríloquos que controlam elas é aterrador. A construção do enredo desde o passado do protagonista até o clímax na mansão do irmão ficou impecável. Mas não vou ficar falando sozinho, qual a opinião dos meus caros colegas?

Diego-

Em primeiro lugar: horror realmente não é pra mim. É um gênero que eu simplesmente não consigo se quer entender o apelo, muito menos então gostar, lamento. Sob circunstâncias normais eu não teria chegado nem perto desse anime. Dito isso eu vou dizer que estava pronto pra comentar que, apesar de não ser pra mim, tínhamos afinal um bom episódio. Digo, a primeira esquete começa muito bem. Ela é feita pra ser desconfortável e definitivamente o é. Eu estava gostando? Nem tangencialmente, mas ao menos estava sendo funcional. E ai temos aquele final... Quer dizer então que essa toda poderosa maldição pode acabar no momento que o objeto some? E não somente a maldição acaba como todos os seus efeitos são completamente revertidos? Ah mas vá tomar no... Sério, a esquete tem uma tonelada de problemas de lógica (como um artefato místico antigo jogado por ai de boas, ou o fato do avô ter um diário que o neto nunca olhou apesar de estar ali há anos), mas tudo bem, é horror, lógica não faz parte mesmo. Mas uma solução tão fácil foi ridiculamente anti-climática, chega a ser frustrante.
A segunda esquete foi... qualquer coisa. No fim o boneco creepy era amaldiçoado. Nossa, quem poderia imaginar, não é? [/sarcasmo]. Dito isso, o Japão tem algo com bonecos amaldiçoados, né? Lembro de Yami Shibai ter um ep do gênero também, onde um boneco ventríloquo "ganha vida". Acho que já li em algum lugar que isso pode ter relação com a ideia de kami, de como objetos podem também ter alma. Só uma pequena curiosidade mesmo.

Fábio "Mexicano"-

Eu não entendi que a maldição sumiu porque o objeto sumiu, e sim que ela foi passada para outra pessoa. Pelo menos não é uma maldição epidêmica, pense pelo lado positivo.

Vinicius Marino-Ú

Posto que a menina estava APONTANDO para o ídolo de jade, pode bem ser que ela ludibriou o garoto a apanhá-lo sabendo que a maldição seria transferida. O sorrisinho dela no final me sugeriu essa possibilidade.
Mas comecemos pelo começo: mais um episódio excelente, que me faz novamente agradecer por estar participando do nosso Café! Deu para perceber que Junji Ito tem um talento para a ficção curta. Quando a execução entrega (como foi o caso desse capítulo e do anterior) o resultado é de aplaudir.
A esquete (ou esquetes?) do boneco foi a que mais me agradou. Marionetes são naturalmente assustadoras, e o anime conseguiu articulá-las com a verossimilhança que faltou aos bichos horrorosos dos primeiros capítulos. Tivemos também o pano de fundo necessário para simpatizarmos com as personagens -e horrorizarmo-nos com sua transformação final.
Uma curiosidade: a música que a menina dança é do ballet O Quebra Nozes, que (adivinha!) fala de um boneco que ganha vida. Aliás, mais de um. No início do ballet, quando a protagonista Clara ganha o quebra-nozes, há também uma boneca animada, interpretada por uma bailarina imitando movimentos mecânicos. Tudo a ver com o episódio.
Claro, para quem quiser ver bailarinas imitando bonecas há também um ballet muito mais direto (e creepy): Coppelia

Gato de Ulthar-

Bonecos criando vida sempre dão histórias de horror muito boas, vide o clássico Chucky, a boneca Annabelle, que é baseada em uma lenda investigada pelos demonologistas Ed e Lorraine Warren. Bonecos sempre dão pano para a manga.
Pelo visto não foi só eu que gostei deste episódio! Pelo visto a teoria do saquinho de contos apresentada pelo Vinicius vem dando certo! O anime ainda sofre pela qualidade da animação, mas o conteúdo ficou bem favorável.
Só o Diego não apreciou mesmo, mas o Diego é o Diego, ele não aprecia horror. :stuck_out_tongue:

Fábio "Mexicano"-

Eu não sei se o Gato ou alguém aqui (ok, se alguém, só pode ter sido ele) leu o conto das marionetes, mas provavelmente não há menção a o quê a garota dança. Tratar-se-ia, então, da primeira escolha criativa deliberada e positiva da produção do anime - ainda que tenham feito uma escolha óbvia.
Em termos de "tipo de horror", suponho que o primeiro foi mais "nojento" e o segundo "psicológico", estou muito errado?

Diego

Acredito que seja por ai mesmo, Fábio.
Ah, e sobre o segundo conto, só queria adicionar: palmas a ele por fazer o que eu sempre achei que deviam fazer em histórias com bonecos assassinos, acabar com o problema na base da porrada. Medo é o escambal, bonecos tem no máximo uns 30 centímetros, uma bicuda e adeus assombração :stuck_out_tongue:

Fábio "Mexicano"-

Hahahaha, está aí, um comentário do Diego com o qual eu concordo 100% :smile:

Gato de Ulthar-

Fábio, creio que seja por aí mesmo, o primeiro foi mais nojento,mas eu tenho uma ressalva, eu achei ele bastante psicológico também, pois não se resumiu em apenas "dar um susto", ou "chocar", foi uma construção prolongada de uma situação amedrontadora.
Mas claro, o segundo se apoiou bem mais em conteúdos psicológicos para transmitir uma aura de mistério e horror. É só parar pra ver, no da marionete o sobrenatural só apareceu no final do conto! Até lá foram apenas sugestões de que o Jean Pierre era um boneco amaldiçoado e com más intenções. Sabíamos que ele faria alguma coisa, mas quando e onde?
Fiquei com pena que ele matou a namoradinho do protagonista! Embora tenha sido uma boa escolha ter feito isso.
Apoio 100% o Diego, devemos fazer valer o velho adágio "chuta que é macumba!"

Fábio "Mexicano"-

Tem essa coisa da "namoradinha do protagonista" no conto das marionetes. Acho que ficou mal resolvida, muito mal resolvida. Eles só se reencontraram e depois nunca mais conversaram na vida (bom, ela trabalhou de carteira pra ele também, LOL). Quero dizer, suponho que houve muita coisa implícita aí, mas do nada ela simplesmente estava com ciúmes dele e eu fiquei aqui pensando quando foi que eles começaram algo para ela ter ciúmes em primeiro lugar. Não começaram, o anime sequer sugere isso. É triste que ela tenha morrido, mas o impacto é zero por causa disso. Aliás, o protagonista a vê morta e não parece muito chocado também. A parte das relações familiares funcionou bem, mas essa personagem acabou sendo dispensável.

Vinicius Marino-Última Terça-feira às 08:28

Não sei se concordo com o impacto ter sido zero. Vê-la dependurada morta foi uma cena bastante chocante. Claro, não tivemos lá muito tempo sequer para decorar seu nome, mas esse é aquele problema do terror de que eu já falei aqui antes. É um gênero que muitas vezes prioriza as ideias às pessoas.(editado)

Gato de Ulthar-

A úncia coisa que a cena dela morta me fez pensar é como ela foi burra e o protagonista meio malandro. Ela foi dar mole quando pré-adolescente para o guri meio esquisito das marionetes, e quando cresceu e o reviu, foi a mesma coisa. Tudo isso para ela acabar morrendo porque ele não abriu o jogo com a própria namorada!
Eu realmente pensei que o boneco a iria simplesmente transformá-la em marionete, não estripá-la também.

Fábio "Mexicano"-

Como "abrir o jogo" nesse caso? "Ah, meu irmão é doidão e tá vivendo como se fosse uma marionete..."
Mas sim, a impressão que eu tive é que ele nunca se importou com ela. Só tava com ela porque o anime disse que sim porque não tinha coisa melhor pra fazer, sei lá.

Gato de Ulthar-

Senti que ele foi um "cuzão" com a menina.

Gato de Ulthar

Para efeitos d e comparação, olhem a cena da menina morta extraída do mangá:

Fábio "Mexicano"-

Ela parece mais nova.
E muito mais morta.

Gato de Ulthar

Bem mais assustadora né? Mas nem quero criticar muito a qualidade da animação, isso é pingar no molhado, pois mesmo assim a produção entregou um episódio bacaninha.

Vinicius Marino-

Mas sinto-me no dever de "pingar no molhado" em outro sentido: no de reiterar quão incrível a arte do Ito é. Ele é o tipo de mangaká que sequer precisa de uma história para fazer terror. Se eu colocasse essa imagem num slide em algum congresso, pode apostar que teria gente pulando pela janela.

Fábio "Mexicano"-

Eu acho que você deveria fazer isso.

Gato de Ulthar-

É uma boa ideia mesmo. Mas só reiterando o que o Vinicius disse, eu concordo 100% com ele. A arte do Ito é perfeita para horror. Até em obras em que a qualidade de enredo deixe um pouco a desejar, o que ocorre de vez em quando, a arte sempre vale a pena.
As sombras nos olhos, os olhares dos personagens, o jogo de sombras e luz, tudo é usado com esmero.
E geralmente sempre as personagens femininas, pelo menos as protagonistas, possuem o mesmo olhar, uma similaridade curiosa.

Fábio "Mexicano"

Acho que já li isso como crítica ao Ito: suas mulheres são sempre iguais.
Veja como essa Kinuko do mangá é razoavelmente parecida com a boneca do primeiro episódio, que era uma criança.

Gato de Ulthar-

Eu não consigo ver essa característica do trabalho do Ito como prejudicial, é na verdade um "charme" do autor, uma característica própria que lhe confere individualidade em seu trabalho. Ressalvadas as diferenças, há vários escritores que sempre dão aos protagonistas de seus livros os mesmos nomes.

Fábio "Mexicano"-

Eu não disse que eu critico isso, disse que é uma crítica comum. O Diego é o maior crítico aqui, será que ele concorda? :smile:

Diego-

Nem, fora que reutilização de design, mesmo reutilização de personagens mesmo, é algo bem comum. Poxa, Tezuka já vivia reutilizando seus personagens XD. Acharia incômodo se as mulheres em uma mesma história tivessem todas a exata mesma cara, e mesmo assim, sendo competente em áreas como cabelo e roupas da ainda pra passar que são pessoas diferentes.
Sobre a arte do Ito em si, do pouquíssimo que já vi eu tenho de dizer que ele desenha muito bem mesmo. Qualidade da trama de lado, o traço dele é excelente.

Fábio "Mexicano"-

O Tezuka inventou que seus personagens eram "atores", os classificava e atribuía "cachês" para eles!

Diego

Curiosamente, é o que muitos producers fazem com os Vocaloids em suas músicas hoje :smile: kkkkk

Gato de Ulthar-

Fábio, eu sei que você não disse que criticava, eu só estava malhando o pau nos críticos de plantão, por uma crítica tão vazia como essa!

Vinicius Marino

Essa peculiaridade do Tezuka me lembra as obras da Type-Moon, que também reaproveitam designs de personagem ao pé da letra. Eles não chegam a ser os mesmos "atores", mas são tratados como sósias até pelas próprias personagens em obras de crossover (como o game Battle Moon Wars)
Dito isso, assim como vocês, também não vejo isso como um problema. E digo mais: é um tipo de coisa que se observa desde os primórdios das artes. Vários pintores e desenhistas renomados tinham um traço muito característico que pode ser observado em muitas de suas personagens. Um exemplo importante é o do Leonardo da Vinci, que colocava a si mesmo em várias personagens - incluindo a Mona Lisa!

Gato de Ulthar-

Mudando de assunto, um comentário que vi pela internet me fez pensar um pouco sobre um outro elemento deste episódio, em relação ao conto dos "buracos" nos corpos, mais especificamente sobre uma pseudo-doença, a tripofobia, que seria o medo crônico de padrões irregulares ou de agrupamento de pequenos buracos ou saliências. Chamei de pseudo-doença pois não é reconhecida pela comunidade médica como uma fobia. Mesmo assim, esse tipo de "violação" do corpo humano é visualmente muito perturbadora, existindo essa fobia ou não.
Tripofobia (em grego: τρύπα trýpa "buraco", e φόβος phóbos "medo") é um nome proposto para a suposta fobia de padrões irregulares ou de agrupamento de pequenos buracos ou saliências . Embora o termo seja popular na Internet, as com...

Diego

É visualmente terrível mesmo, e o relato do avô sobre insetos entrando nos buracos é de arrepiar. Ao mesmo tempo, eu diria que essa maldição do episódio é o tipo de coisa que fica na exata linha entre o ser assustador e o ser bobo. Durante toda a esquete eu estava arrepiado tanto quanto estava pensando "não é assim que a biologia funciona!" Ok, maldição e tals, mas vão dizer que não tem esse lado mais "só aceita, pls"? XD (dito isso: o fato de rolar uma coisa dessas com o o avô e a família só fingir que nunca aconteceu realmente me incomoda. Uma "doença" dessas seria manchete de jornal fácil, mas a família esconde porque... ???? É o tipo de clichê que realmente me irrita, e ferra legal com a minha suspensão de descrença).

Vinicius Marino-

Eu tinha uma amiga que sofria disso. Ele não podia ver nenhum aglomerado de bolinhas que já ficava arrepiada
Nem se fosse foto.

Gato de Ulthar-

Entendo o dilema do Diego em aceitar este tipo de conteúdo sem explicação aparentemente plausível. A doença do avô era misteriosa, mas mais misterioso era o médico que cuidava dela, e que obviamente era um elemento da maldição, vai saber o que ele disse pra família? Pode ter rolado até uma chantagem, ou algo mais sobrenatural. Lembrando que o respectivo conto está mais na esfera do sobrenatural do que do científico.

Fábio "Mexicano"-

Eu acho que essa maldição foi uma furada, mas até aí, era essa a intenção, não era? :smile:

Gato de Ulthar-

"A maldição foi uma furada :stuck_out_tongue: " essa foi a melhor piada que ouvi hoje.

Gato de Ulthar-

Depois dessa piada do Fábio, só me resta encerrar o Café com Anime e agradecer a todos que leram até o final. Nos vemos no próximo episódio, até logo.

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