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Gato de Ulthar
Café com Anime - Junji Ito Collection Episódio 8
Bem vindos a mais um Café com Anime. Falamos um pouco sobre o episódio 8 de JUNJI ITO: COLLECTION. A característica mais marcante deste episódio, sem sombra de dúvidas, foi a animação canhestra, bom, sim, a animação sempre foi ruim, mas neste episódio conseguiu ser pior, o que deixou tudo mais engraçado. Para conversar sobre isso e outras coisas, eu, Gato de Ulthar, juntamente com o Diego do É Só Um Desenho, o Vinicius do Finisgeekis e Fábio "Mexicano" do Anime21, nos reunimos do Café com Anime desta semana.
Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes.
Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leio nosso post introdutório:
Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Mahoutsukai no Yome e Junji Ito: Collection, enquanto o É Só Um Desenho ficou responsável por Kokkoku. Já o Finisgeekis publicará nossa conversa sobre Cardcaptor Sakura: Clear Card-Hen. E no Anime21, temos as discussões sobre Violet Evergarden.
Gato de Ulthar-
Vamos iniciar a discussão do oitavo episódio de Junji Ito Collection! O que posso dizer preliminarmente sobre ele além do fato de que foi um bom episódio? Me surpreendo até hoje com a criatividade do Junji Ito em criar situações extremamente bizarras, sem dúvidas ele merece a fama que possui. A primeira história, Ancestrais Honrados, foi a que mais apreciei, pelo tema inusitado e a construção da tensão até o derradeiro fim. Uma família que se mantém "viva" unindo suas cabeças, onde todos compartilham a memória de todos, isso é genial. A segunda história, O Circo Chega à Cidade, é um clássico conto de um circo macabro, a inovação reside no círculo vicioso criado para sempre renovar os seus artistas e pela atmosfera burlesca.
Fábio "Mexicano"
Eu gostei mais do segundo conto? Quero dizer, morri de rir com ele. Sei que não é exatamente engraçado, mas era tão cara de pau que só me restou rir. De todo modo, os dois são contos que dá para interpretar como metáforas para a vida real, não é? Casar é uma coisa assustadora (quero dizer, não sei, nunca casei, mas consigo imaginar que possa ser). Passar a fazer parte de outra família pode mesmo parecer aterrorizante. E por outro lado, a pressão da sua própria família para se casar pode ser enlouquecedora.
Já o circo eu vejo como uma metáfora para o show business, ou no caso do Japão a indústria idol mesmo. Quem está de fora acha que é uma maravilha e não consegue enxergar os absurdos que acontecem debaixo de seu próprio nariz. Não é tanto que não enxerguem: não querem enxergar. A promessa é muito grande e muito boa, então todo mundo meio que acha que apesar de tudo vale a pena. E dá pra generalizar mais ainda, pode-se ler isso como qualquer promessa grande demais que é obviamente uma furada, como aquele emprego que paga bem mas a empresa é horrível, ou esquemas de Pirâmide de Ponzi, etc.
Vinicius Marino-
Minha leitura do segundo conto foi idêntica à do Fábio. De fato, o Show Business é um meio que funciona explorando (quando não destruindo) pessoas, mas que atrai novos recrutas quase sem esforço. É um jogo de roleta russa com 5 balas na câmara que as pessoas jogam sob uma ilusão perpétua de meritocracia. O Mario, trapezista do episódio, é a face mais evidente dessa mentalidade. A despeito de ouvir na lata que o jogo estava viciado, ele insistiu em cair para a própria morte.
Diego-
Foi de fato um bom episódio. Eu gostei dele? Mas nem por um segundo, bem longe disso. Mas tenho de admitir que foi bom (bom, exceto em sua parte técnica, que meu deus do céu a coisa mais assustadora no episódio foi a péssima animação no segundo conto).
Fábio "Mexicano"
De fato, fiquei com a impressão que a animação, que já não é nada impressionante nesse anime, piorou nesse episódio.
Mas creio que isso foi mais do que compensado por dois contos que fazem sentido, que conseguem nos atingir de alguma forma, e não, sei lá, o moleque comedor de pregos.
Diego-
Nada compensa o fato de que quando os equilibristas caíram da corda bamba, o anime reutilizou os frames do palhaço sendo arrastado pra longe. Isso sem mencionar as facas, que nem por um segundo se quer parecem estar "atravessando" alguma coisa. Sério, esse episódio foi absurdamente mal animado, meu deus.
Fábio "Mexicano"
HAHAHAHAHA eu notei isso também
Do equilibrista morto que quando arrastado virou o palhaço, digo
Gato de Ulthar-
Sim, a animação estava sofrível, mas como não gosto de chutar cachorro morto, nem perco mais o trabalho de criticá-la! Outra coisa que me incomodou bastante foram os gritos da protagonista, a dublagem estava boa, mas nem parecia que o grito estava saindo da boca da personagem. Achei isso muito esquisito.
Fábio "Mexicano"-
Eu adorei os gritos da "mulher loira" que na verdade era um homem e estava em pânico por estar preso ao alvo!
Fábio "Mexicano"-
Melhor trap da temporada!
Gato de Ulthar-
Pena que ela foi morta
Fábio "Mexicano"-
Todo mundo foi morto. Até o último palhaço - aliás, belo uso da Pistola de Chekhov
Vinicius Marino-
Bom, mulher barbada é uma atração tradicional de circos. Vai ver ela foi forçada a uma performance mais perigosa pelo chefe do picadeiro.
Gato de Ulthar-
Pois é, então o anfitrião era um demônio mesmo, o que deu para perceber pelo seu controle das probabilidades.
Incrível como um bando de homena faz qualquer coisa por um rabo de saia!
A situação é tão improvável que penso que há alguma forma de hipnose sendo exercida ali, só pela pretensão de poder casar com a menina não acho suficiente para manipular toda a plateia a trabalhar no circo.
Além disso, só homens foram ver o espetáculo, isso é coincidência ou algo planejado?
Vinicius Marino-
Não tinha reparado, mas me parece sagaz demais para ser uma coincidência. Realmente, o demônio parece estar usando o instinto de White Knight (http://knowyourmeme.com/memes/white-knight) da platéia para obter suas vítimas.
Fábio "Mexicano"-
Pode ser tudo uma soma de coincidência e loucura induzida pelo trauma da Lelia, mas de um jeito ou de outro o efeito é o mesmo, então não importa e essa é a graça de histórias curtas: elas não precisam explicar tudo.
Vinicius Marino-
Pode ser isso também. Uma forma de retratar o pavor do ponto de vista dela. São os "seus" olhos que olham para a arquibancada e se cravam nas futuras vítimas. Isto faria um paralelismo com a primeira história, que também é contada do ponto de vista da garota.
Fábio "Mexicano"-
Pode ser o ponto de vista do sujeito sem nome que acompanhamos no começo do episódio, que só enxerga "rivais" na arquibancada.
Vinicius Marino-
Outra possibilidade. Se bem que, considerando que o anime sequer se preocupou em animar a queda dos equilibristas, eu não se esforçaria muito para encontrar mensagens nos detalhes
Fábio "Mexicano"-
"O anime não se preocupou" resume esse episódio.
Fábio "Mexicano"
HAHAHAHAHAHAHAHAHA
Gato de Ulthar-
Nessa história das cabeças o carinho que queria casar com a Juri nem cogitou que ela ficaria assustada com a situação
Pendo no casamento que seria realizado entre os dois, bom, estaria mais para um estupro.
Diego-
Eu vou aquele cara que vai notar que essa família está fazendo isso há gerações e mais gerações, o que me faz pensar como se quer metade desse povo ai conseguiu se casar pra começo de conversa E também me faz pensar em quem foi o maluco que teve a ideia primeiro. "Hey, vou pegar o crânio do meu antepassado e prender na minha cabeça, vai que dá alguma coisa, né?"
Fábio "Mexicano"-
Se o pai não tivesse morrido antes, a garota só teria descoberto tarde demais. Fora que sei lá, algumas raras pessoas podem ser meio pancadas da cabeça e aceitar de bom grado mesmo sabendo
Gato de Ulthar-
Esse conto das cabeças parece uma alegoria macabra ao conceito de inconsciente coletivo, criado pelo psiquiatra Carl Gustav Jung, visto que esse inconsciente coletivo é constituído pelos materiais que foram herdados através das gerações, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os membros da família, se for levar em conta o inconsciente coletivo familiar e não o global.
Gato de Ulthar-
Gostaria de levantar um ponto sobre as histórias de Junji Ito. Neste último episódio tanto a protagonista do primeiro conto, como o narrador e a maioria dos personagens da plateia e do espetáculo do segundo conto se deram extremamente mal, lembrando bastante os contos de H.P. Lovecraft. O protagonista levar a pior é uma característica bastante presente em suas obras, mesmo os que escapam da morte ou do tormento iminente, como o rapaz do conto sobre o moço bonito da encruzilhada, não ficam ilesos, sem pelo menos sérios abalos psíquicos. Eu aprecio este tipo de narrativa, por não impor conveniências de enredo para que se tenha um final feliz, aproximando-se mais da realidade, mesmo em cenários tão absurdos como as obras de Junji Ito. Nessa esteira, qual a opinião e vocês sobre o assunto? Acham que essa é uma boa maneira de se contar uma história de horror?
Fábio "Mexicano"-
Eu acho que é imprevisível, tudo pode acontecer com todo mundo, inclusive os protagonistas, e isso é bom, especialmente no gênero horror.
Diego-
Eu diria que um final mais dark não é necessariamente um mais realista. E como alguém que prefere muito mais finais felizes, eu adicionaria que também não é realmente um final que me agrade. E eu vou discordar do Fábio sobre ser imprevisível: no começo sim, verdade, mas basta umas três esquetes para o formato "tudo que puder dar errado dará" ficar ele próprio previsível também.
Fábio "Mexicano"-
Mas nem sempre dá errado, e você não sabe de que forma irá dar errado. É imprevisível sim.
Vinicius Marino-
Pessoalmente, gosto de histórias que nos fazem abandonar a esperança. Não que finais felizes não possam funcionar no terror, mas acho mais fácil provocar pavor quando se coloca as personagens em uma encruzilhada. A angústia de descobrir que não há solução - às vezes, tarde demais - combina perfeitamente com o suspense que caracteriza o gênero.
Gato de Ulthar-
Só para encerrar nosso bate-papo, na opnião de vocês qual foi o melhor momento deste episódio?
Diego-
Os erros de continuidade por causa da animação ruim. Ao menos foi engraçado ver os três acrobatas se transformarem magicamente em um só palhaço
Gato de Ulthar-
Foi a magia do circo
Fábio "Mexicano"-
O circo foi engraçadíssimo mesmo. Seja pela animação horrível, seja pelas mortes toscas, previsíveis, seja pela reação cara de pau do mestre ou da falta de reação do público (enquanto a Lelia estava visivelmente consternada lá em cima o tempo todo).
Vinicius Marino-
Gostei de quando aquela peça da escada (que nem sei o que é de tão animado que o episódio foi) impalou o pretendente da Leila.
Foi um quadro muito trash, mas que justamente por ser trash teve seu charme. Imagino-o até representado em live-action
Fábio "Mexicano"-
Peça da escada? Não está falando da hora que caiu a faca?
Fábio "Mexicano"
Sim, a faca que o atirador de facas atirou e errou bizarramente. Como eu disse antes, foi um curioso uso de Pistola de Chekhov.
Gato de Ulthar-
Acho que esse foi um episódio muito curioso, sendo o que mais chamou a atenção foi justamente os erros grotescos de animação
Assim, termino por aqui mais este bate-papo, até a próxima!
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