Café com Anime - Junji Ito Collection Episódio 10


Sejam todos bem vindos a mais um Café com Anime, desta vez conversamos um pouco sobre o episódio 10 de JUNJI ITO: COLLECTION. E preparem-se para sentirem bastante nojo! Esse episódio foi interessante, não somente pela erupção de pus, mas pelo curioso jogo entre as histórias adaptadas. Para conversar sobre isso e outras coisas, eu, Gato de Ulthar, juntamente com o Diego do É Só Um Desenho, o Vinicius do Finisgeekis e Fábio "Mexicano" do  Anime21, nos reunimos do Café com Anime desta semana.

Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. 

Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leio nosso post introdutório:

CAFÉ COM ANIME - ESCOLHAS E EXPECTATIVAS PARA A TEMPORADA DE JANEIRO DE 2018.


Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Mahoutsukai no Yome e Junji Ito: Collection, enquanto o É Só Um Desenho ficou responsável por Kokkoku. Já o Finisgeekis publicará nossa conversa sobre Cardcaptor Sakura: Clear Card-Hen. E no Anime21, temos as discussões sobre Violet Evergarden.


Gato de Ulthar-

E o que temos para hoje? Simplesmente o episódio mais nojento e perturbador até agora (pelo menos para mim). Eu já havia lido o conto sobre as espinhas muitos anos atrás, especialmente em uma época que eu, como adolescente, estava repleto de espinhos, e posso afirmar, foi uma experiência traumática! Confesso que senti um pouco de náuseas vendo este episódio. Mas por favor, não pense que eu não gostei dele, na verdade eu adorei! É uma das coisas mais non-sense e malucas que o Ito já escreveu, e que mostra sua maestria em criar os cenários mais improváveis para construir suas histórias bizarríssimas. A segunda adaptação foi OK, uma história de fantasmas, bem construída e envolvente, mas nada que chame muito a atenção.
E uma pergunta, alguém gosta de catupiry?

Vinicius Marino-

Quando eu assisto a Junji Ito, fico amiúde pensando: como esse cara chegou a essas ideais? Nesse episódio, não foi preciso adivinhar.
Felizmente não foi o meu caso, mas como o Gato bem lembrou, alguns adolescentes sofrem horrores com a acne. Uma grande amiga minha precisava tomar remédios controlados para reduzir o problema. Isto impunha algumas limitações de dieta e trazia toda sorte de efeitos colaterais.
E quer saber? O episódio de hoje é exatamente o que eu imagino de um pesadelo uma pessoa que sofre disso. A cena do Monte Fuji explodindo com pus é tão cliché e descarada que quase a imagino recontada no divã de um terapeuta.


Diego-

Francamente falando, eu nem sei o que dizer desse episódio. Eu achava que ficaria super enojado, mas no final das contas o treco é tão mal desenhado e tão mal animado que nem isso eu senti. No fim das contas, foi um episódio... meh. Ele existe, eu vi, e meio que isso resume a minha experiência com ele - em ambas as histórias, diga-se de passagem.


Fábio "Mexicano"-

O Diego é sempre o mais animado :smile:
Que justaposição incrível de contos! Uma dificuldade adolescente (e no sentido amplo pode representar todas as dores e sofrimentos dessa fase da vida) e o medo da morte que se torna cada vez maior quanto mais velhos somos. E os dois representam simbolicamente muito bem seus objetos. A adolescência é uma fase de transformações, algumas fisicamente doloridas (já li que quem cresce muito rápido tem dores musculares por causa disso), algumas mentalmente enlouquecedoras, e claro, tem aquelas que são apenas nojentas mesmo, como beijos, sexo, e, claro, espinhas. Poucas coisas representam tão bem o lado negativo dessa fase de mudanças quanto a acne.
Por outro lado, adolescentes nem pensam na morte. O fim da vida é um conceito abstrato, a gente sabe que um dia vai morrer, mas a ficha só cai mesmo conforme envelhecemos e vemos nossos parentes, amigos, e conhecidos (e desconhecidos também, na figura de ídolos e famosos em geral) morrerem, um depois do outro. O corpo cada vez mais fraco, as doenças, cada pequeno detalhe que nos faz sentir a iminência da morte. A morte deixa de ser uma ideia para ser um evento na agenda, ainda em data desconhecida, mas com certeza cada vez mais próximo.
Achei o máximo colocar esses dois contos lado a lado em um mesmo episódio.

Vinicius Marino

Acho que foi por causa disso que esses contos se mostraram tão fortes. A despeito do nonsense, da nojeira e da produção ruim, eles tocam em questões bastante humanas. Não são apenas um exercício em mau gosto, como contos de terror amiúde acabam se tornando.

Gato de Ulthar-

O Diego animado como sempre :P
Interessante o paralelo do Fábio quanto a escolha dos contos adaptados neste episódio. Penso se isso foi mera coincidência ou fruto de uma escolha deliberada da produção? Lembrando que o anime foi infeliz em muitos casos de escolha de obras a serem adaptadas. Se bem que isso se deu mais no começo né? De um ponto pra frente o anime se mostrou muito mais coeso. Pena que a qualidade técnica deixa tanto a desejar, imagem as possibilidades com uma animação de qualidade?
Mas voltando à analogia do Fábio, fica interessante apontar a atitude da protagonista, como uma jovem estudante em uma situação de observadora do declínio de sua família, apresentando uma postura sempre apática, tal qual quando informa mecanicamente o nível de saturação da casa. Essa apatia com o entorno é uma característica marcante do período da adolescência.
A seguinte imagem retirada do mangá ilustra bem isso:

Diego-

Imagino que o paralelo seja pura coincidência. A equipe por trás desse anime não me parece assim tão sagaz não :smile:

Vinicius Marino-

Curiosamente, o Christopher Farris do ANN não gostou da combinação. Ele criticou o episódio por ser um dos mais desiguais até aqui: https://www.animenewsnetwork.com/review/junji-ito-collection/episode-10/.128819
Eu não poderia discordar mais, por motivos que a resposta do Fábio já deixou bem claros.

Fábio "Mexicano"-

Eu sinceramente duvido que seja coincidência. Nem sempre souberem escolher bem, mas sem dúvida estão tentando isso desde o começo do anime. E não é o primeiro episódio com uma combinação interessante, acho que só é o primeiro em que os dois contos casam tão bem.

Gato de Ulthar-

Pensando bem, acho que a equipe está fazendo o que pode para deixar o anime aceitável, e eles estão pegando o jeito.
Esse cara do ANN é um chato :stuck_out_tongue:
Esses contos casaram perfeitamente bem, sem tirar nem por.

Diego

Bom, talvez o problema esteja comigo. Eu juro que tento ir pra cada novo episódio com toda boa vontade do mundo, mas ela meio que se esvai por completo em cerca de cinco segundos :stuck_out_tongue:

Fábio "Mexicano"-

Sim, o problema está com você.

Gato de Ulthar-

O Diego é um personagem do Junji Ito.

Fábio "Mexicano"

De qual conto?

Gato de Ulthar-

Não sei ao certo, ele é um cara cético quanto ao terror, todos os seus amigos e conhecidos fazem ele ver filmes e ler mangás de terror e nada de agradá-lo, até que ele acabe se envolvendo em um incidente macabro pessoalmente.

Fábio "Mexicano"-

Amigara Fault então?

Gato de Ulthar-

Pode ser, uma boa escolha.


Gato de Ulthar-

Essa imagem me lembrou muito The Enigma of Amigara Fault, até me deu um frio na espinha, e tomara que Amigara Fault seja adaptado!
E vocês, o que acham que significa essa simbologia do rio? Aparentemente é um rito fúnebre bem específico, o único paralelo que consigo fazer mentalmente é com o sepultamento dos hindus que lançam ou pelo menos lançavam, os corpos de seus mortos no rio Ganges.
Pelo que entendi do episódio, só que passa o rio e é levado pela jangada improvisada segue para o outro mundo. Desta forma, não seria errado afirma que as almas de quem fica preso no rio acabam ficando retidas no mundo humano, o que explica as assombrações pertinentes.

Fábio "Mexicano"-

As lanternas que soltam em algum festival aí em rios não representam os mortos também?


Vinicius Marino-

Se bem me lembro da tradição japonesa, a morte é simbolizada como uma passagem. A gente viu isso em Shows Genroku Rakugo Shinjuu, em que o morrer é uma travessia literal por um rio escuro. Claro, é o mesmo princípio de muitos outros mitos, a começar por Caronte. Nesse sentido, parece justo interpretar os mortos do episódio como aqueles que fixaram para trás. Quiçá porque tinham pontas soltas na terra. O noivo da protagonista, por exemplo, morreu jovem, antes do noivado
Isso explica porque a família tinha uma política de não intervenção em relação aos acidentes. Se o morto não está pronto para ascender, não adianta forçar

Fábio "Mexicano"

E o horror, no caso, está no fato de que a avó havia tido uma vida longa e plena, de forma alguma precisava ou desejava ficar atrás, mesmo assim ela ficou. Ou talvez ela tenha se sentido presa pela tragédia durante toda a sua vida?

Vinicius Marino-

As duas hipóteses são boas. De um ponto de vista sobrenatural, ela pode ter tentado escapar das expectativas dos mortos e falhado. De um ponto de vista mais simbólico, ela pode ter vivido a vida sob o espectro da vida que não teve, ao lado dos entes queridos. Como a protagonista do conto do James Joyce chamado (Não à toa) Os Mortos.
Não vou contar como a história se relaciona com o episódio porque seria spoiler. Digo apenas que mostra, com bastante violência, o efeito que uma morte não resolvida pode ter numa pessoa

Diego

Para mim a "mecânica" é mais simples: é como o Gato disse, aqueles que atravessam a ponte e seguem rio abaixo conseguem cruzar para o outro mundo, mas aqueles que caem da jangada para o rio, afundando e ali ficando, ficam para trás. E parece ser só uma questão de sorte mesmo, ao menos foi o que interpretei das atitudes dos moradores no flashback da avó.

Fábio "Mexicano"-

Mas o que meros mortais sabem do destino e do que vai no coração das pessoas? É lógico que em qualquer caso, para quem assiste, vai parecer apenas sorte


Gato de Ulthar-

Não dá para saber o que se passa na cabeça do autor, ainda mais quando ele é alguém morbidamente criativo como Junji Ito, mas posso considerar que ele tenha tentado sim impor uma metáfora em sua pequena história, não se tratando de mera sorte ou coincidência. Os fantasmas do rio podem ser nossas memórias do passada e traumas que ficaram pendentes, como a perda de um noivo muito amado, como é o caso da vovó.
A moça deste conto foi completamente tapeada, lembram que velhinha Osode pediu para ser enterrada? Mas depois que morreu a garota acordou como se estivesse em um sonho, que na verdade não era um sonho. Quando ela chegou na casa da avó ela já havia sido jogada no rio, então temos que supor que os fantasmas fizeram aquilo?

Fábio "Mexicano"-

Pode ser muita coisa, e a gente não a conhece o suficiente para saber. Por exemplo, pode ser que ela já soubesse dessa história toda desde criança (ainda que talvez não se lembrasse), e por isso sonhou com ela.

Diego-

Eu entendi que foi obras dos espíritos, que fizeram ela crer estar dormindo enquanto pegavam o corpo da avó para fazer o ritual lá.

Fábio "Mexicano"-

Ele não achou que estava dormindo, foi o contrário :smile: Achou que estava acordada enquanto estava na verdade dormindo! E ela descobriu ou relembrou toda a verdade, inclusive que a avó dela não queria passar por aquele ritual de sepultamento - se os espíritos, os interessados nisso, "contaram" para ela, eles são além de tudo sádicos :smile:
Quem pegou o corpo, de todo modo, foram os vivos, enfim. A velha morreu e foi sepultada na mesma noite, esse deve ter sido um dos funerais mais curtos do vilarejo.

Diego-

Não tem como ter sido os vivos. Se me lembro bem, a avó fala que não tinha mais ninguém naquele vilarejo.

Gato de Ulthar-

Só podem ter sido os vivos que sepultaram ela né? Mesmo que isto não tenha sido mostrado. A não ser que os espíritos tenham poderes de interferir no mundo material.
O que não é de todo improvável.

Fábio "Mexicano"-

A neta chega no vilarejo e ... encontra um velho vivo.
Então, bem, há outras pessoas vivas lá. Provavelmente todos velhos que mal saem de casa. Ninguém que pudesse fazer companhia para a avó, que se sentia sozinha e com medo - principalmente porque, conforme vimos no final, eles ainda honravam a antiga tradição de sepultamento no rio, a que a velha que sentia a morte se aproximar não queria ser sujeita de forma alguma.(editado)

Diego

O velho não era um fantasma, tanto da primeira quanto da segunda vez?

Fábio "Mexicano"-

Da primeira (no sonho) era. Da segunda não. A diferença é nítida. Olha lá de novo.


Gato de Ulthar-

Eu também pensei que o velho era um fantasma nas duas!

Fábio "Mexicano"-

Poxa vida, a animação de Junji Ito é ruim, mas pelo menos isso ficou claro o suficiente. Vocês precisam fazer óculos novos!
Ou talvez Junji Ito deva apelar ao simbolismo visual e começar a desenhar aqueles triângulos na testa, indicadores de alma penada no Japão. Ia perder um pouco do que o distingue da massa, mas fazer o quê...

Gato de Ulthar-

Como você adivinhou? Já até estou com a minha receita de óculos pronta...
Ainda estou fazendo orçamento de armações...
:stuck_out_tongue:
Revi a cena, e realmente, o cara está vivo na segunda vez que aparece.

Fábio "Mexicano"-

HAHAHAHA! Bom, eu não uso óculos e assisto sempre no monitor, não sei vocês, vai que alguém assista em mobile...

Gato de Ulthar-

Eu assisto no computador sempre.

Fábio "Mexicano"

O Diego eu sei que assiste alguns animes, eventualmente, no celular, para aproveitar o tempo de trânsito. Ou já fez isso, não sei.

Gato de Ulthar-

Eu não gosto, prefiro ver no PC mesmo.
Lembrando bem, não foi por culpa do óculos que não notei o senhor que estava vivo
Revi a cena agora e percebi que realmente eu o tinha visto vivo mas não estava me lembrando.
O problema é com a memória. :smiley:

Fábio "Mexicano"-

Ah, entendi. Nosso cérebro nos engana às vezes mesmo.

Diego-

Que ele foi colorido diferente da segunda vez eu notei, mas achei que isso era só o anime tentando "fazer surpresa", fazer a gente pensar que ele era um vivo quando na verdade estava morto.

Fábio "Mexicano"-

Mas todos os fantasmas tinham aquela mesma aparência, o anime não tentou enganar a gente em momento nenhum. Não é como se Junji Ito vivesse de sustos fáceis.

Gato de Ulthar-

Vou fazer uma última pergunta, vocês podem considerar este um bom episódio? Eu particularmente gostei dele, mesmo com problemas técnicos sempre presentes que dispensam menção. E qual das duas esquetes vocês mais apreciaram?

Fábio "Mexicano"-

Não foi um episódio memorável por suas histórias particulares, qualidade da animação ou personagens, mas repito o que eu disse logo de cara: foi uma combinação de esquetes muito boa. Sozinhas, eu acharia a primeira apenas nojenta, e a segunda apenas sem graça, mas juntas elas brilharam. Não tenho uma preferida. O episódio foi muito bom.


Vinicius Marino-

Também não tenho uma preferida, mas decididamente considero esse um bom episódio. Foi intrigante, se nada mais. E é isso que aprendi a esperar de Junji Ito

Diego-

Eu não sei responder. Eu não gostei, mas eu não gosto de terror num geral e definitivamente não gosto nem um pingo de nada nesse anime. Mas pensando nele de forma um pouco menos "enviesada"... sei lá, ainda me parece comum e esquecível demais mesmo pra quem goste do gênero.

Gato de Ulthar-

Bom, eu gostaria de ver um dia o Diego elogiando uma obra de Terror. Como esse grandioso dia ainda não chegou, resta esperarmos o próximo episódio para talvez, mesmo que seja muito difícil, termos um elogio do Diego :stuck_out_tongue:

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