Alien Nine Next - Um pequeno retorno digno da série
Esse será um texto bastante saudoso para mim, pois o mangá de Alien 9, ou Alien Nine, como preferirem, foi a primeira obra que eu escrevi sobre, lá em 2013, e agora vou escrever um pouco de mais uma de suas continuações. Creio que este texto não alcançará todos os possíveis leitores do Dissidência Pop, já que se trata uma análise de uma continuação, sendo bastante recomendável que já se tenha um conhecimento prévio da série Alien Nine. Mas, bem que pode servir como um estímulo aos que ainda não conhecem este mangá bastante curioso, que vale bastante a leitura.
Antes de começar a falar do mangá objeto deste texto, peço a licença de vocês para fazer algumas considerações de fundo pessoal. Enquanto preparava este texto, senti a necessidade de reler os meus outros textos que escrevi sobre essa franquia, como o meu texto original Alien 9 - Garotinhas e Alienígenas, Combinação Agridoce, bem como o texto em que analisei a primeira sequência do mangá, Alien 9 Emulators - Novos Alienígenas, Mesma Bizarrice, quase um ano depois, e por fim, meu texto sobre a adaptação em anime, Alien 9 (OVAS): Hora dos Parasitas Cerebrais Versão Animada. Relendo este material, foi impossível não vir a mim uma série de reflexões, pois olhando lá para trás, Alien 9 marcou o início do Dissidência Pop, e posso afirmar que foi uma longa estrada até aqui, pois mais de cinco anos se passaram desde a publicação do meu primeiro texto sobre Alien 9.
Foi realmente uma experiência bastante curiosa, até engraçada, ler alguns dos meus textos antigos, pois é visível que ao longo de um tempo como esses (05 anos) nós mudemos nossa forma de escrita, aprimorando o vocabulário e a capacidade de transmitir ideias, e comigo não foi diferente, até parecia que foi outra pessoa que escreveu o texto lá no passado. Curioso também verificar que algumas ideias ou pensamentos evoluíram com o tempo, e que se eu escrever sobre o mangá só agora, eu não diria a mesma coisa, até mudaria algo. Eu não cheguei a mudar nada dos meus textos antigos, pois são uma prova cabal de o que eu era e no que me tornei, só arrumei alguns errinhos de concordância e sentenças que não estavam fazendo sentido e que escaparam da revisão até hoje.
Assim sendo, neste primeiro texto do Dissidência Pop você poderá ver claramente o que o Gato de Ulthar era e o que ele se tornou, se mudou para melhor ou para pior eu não posso afirmar, quem tem que dizer isso são os leitores, mas não me arrependo do tempo que gastei todos esses anos com esse blog, pois foi e está sendo, e espero que por muitos anos ainda, algo extremamente prazeroso. Foi um longo caminho até agora, mas ele só foi possível pois desde o início teve alguém que curtiu o blog e, mesmo sem sabr, deu força para o Dissidência Pop continuar, pois, não poucas vezes, senti que não conseguiria, ou não queria mais continuar.
Desta forma, tirei este espaço para agradecer de coração a todos os leitores do Dissidência Pop. Bem como, quero agradecer a todos os redatores que agora fazem parte dele, o Camaleão Daltônico, o Gabriel, o Haiju e a Starfire, que com o entusiamos deles, o Dissidência Pop se mantém firme. Mas acho que já falei demais sobre mim e meus pensamentos né? Sei que já devem estar achando tudo isso maçante, então melhor ir direto ao ponto. Vamos falar então de Alien 9 Next.
Mesmo curtindo bastante o trabalho do Hitoshi Tomizawa, e já tenho analisado várias de suas outras obras ao longo dos anos, confesso que apenas fui saber da existência desta continuação faz pouquíssimo tempo, mais precisamente duas semanas atrás a partir da data de publicação deste texto. Mas nem tudo é desleixo meu, pois somente a pouco tempo uma alma caridosa traduziu este material ao inglês, pois até agora este gato ainda não fala nem escreve japonês. Mesmo assim, Alien 9 Next é uma obra bem recente, se levar em consideração que o mangá original é datado de 1998.
Alien 9 Next teve seus três capítulos lançados e disponibilizados direto para a venda (não foram serializados) no site oficial dos trabalhos de Tomizawa (team.frogstarship.net) de dezembro de 2015 até agosto de 2016, data do lançamento do terceiro e último capítulo. Os últimos projetos de Tomizawa, inclusive Alien 9 chamam a atenção por terem sido feitos diretamente com arte em computação gráfica, simulando três dimensões. Curioso que mesmo estranhando esse tipo de arte aplicada em um mangá, coisa que eu já tinha visto sendo feita por Masamune Shirow nos mangás de Ghost in the Shell, ficou interessante no caso de Alien 9 Next, já que sua arte é naturalmente bizarra e conceitual. Além disso, estes três capítulos são completamente coloridos.
Vou aproveitar o ensejo deste texto e falar também um pouquinho de um capítulo especial de Alien 9 lançado na revista Champion Red em 2003, ou seja, pouco tempo depois de Alien Nine Emulators. Este especial conta com nove páginas apenas, e por isso creio que não ficaria muito apropriado um artigo apenas para ele, por isso falarei deste especial aqui também. Parecia que na época Hitoshi Tomizawa queria dar prosseguimento a Alien 9, mas devido a outros projetos este plano foi arquivado, pelo menos até 2015, com o lançamento de Alien 9 Next.
Como esse especial da Champion Red se passa cronologicamente após o Emulators e antes do Next, vou escrever sobre ele antes de entrar no assunto do Next, mas não se preocupem, não levará muito tempo, já que é uma obra extremamente curta. Esse especial é bastante simples e serve para reforçar certos conceitos já aplicados no mangá clássico e Emulators, como a inabilidade nata da Yuri em caçar alienígenas e seu desespero intenso por odiar tais criaturas e nunca conseguir se ver livre delas, o que já é uma das marcas registradas da franquia de Alien 9.
O enredo desse especial é bem simples, mas ao mesmo tempo bastante interessante e gostoso de se ler. Em suma, Yuri, com 19 anos, acabou de se formar no colégio, mesmo querendo se ver livre dos alienígenas e virar uma esposa, ela é recrutada quase que a força, pela veterana Monami Komai para trabalhar com ela caçando alienígenas de norte ao sul do Japão em uma van equipada para isso, tudo de forma particular. Quanto mais a Yuri queira se ver livre dos alienígenas, mas para perto deles ela é tragada. Não é surpresa saber que ela se mete em uma grande enrascada.
Outro ponto interessante desse especial é ressaltar que a Yuri não conseguiu fazer a simbiose adequada com o seu borg, já que ele ainda possui a aparência de capacete e não ainda de peruca, que é como um borg em perfeita relação simbiótica com a usuária deveria parecer. Yuri é uma personagem que mesmo incompleta e não querendo fazer o que faz é empurrada ao odioso (pelo menos para ela) dever de caçar alienígenas. Esse especial não deixa nada em aberto, só nos dá uma perspectiva de um tempo além do que foi mostrado em Emulators, sendo, então, um complemento bastante válido e claro, uma leitura bastante agradável de se fazer. Um perfeito bônus aos fãs de Alien 9.
Pulando diretamente para o Alien 9 Next, o seu enredo segue cronologicamente o especial da Champion Red, só que alguns anos a frente, o que pode ser percebido pelo fato da Yuri contar com 23 anos na época de Next. O engraçado é que sua vida continua a mesma, pois mesmo odiando caçar alienígenas, Yuri continua trabalhando com a Monami Komai e sua van. Diante disto, percebe-se a importância de se ler o especial da Champion Red antes de Next, para que o leitor conheça algumas situações que não são explicadas neste último e que ficariam parecendo tiradas do nada, ou nem mesmo seriam percebidas, como o fato do trabalho da Yuri depois que saiu do colégio.
E o enredo de Alien 9 Next qual é? Bem, se eu puder resumir será da seguinte forma. Kumi, que para quem não lembra, se fundiu de uma maneira super intensa com os borgs, praticamente virando um, ou melhor dizendo, virando uma cabeça com um corpo formado por brocas flexíveis. Voltando ao seu conflito de existência na série clássica, Kumi não sabe se é humana ou um borg, pois na suas próprias palavras, seus sentidos são humanos, mas suas emoções alienígenas e além disso, seu corpo não amadurece, nem como borg nem como humana.
Curioso que Tomizawa faz de um contexto completamente alienígena algo intrinsecamente humano. A busca da Kumi para conhecer a si própria e se tornar adulta, mesmo que em um contexto alienígena, é algo que toca todos os jovens estritamente humanos, pois quem não passa por estes conflitos existenciais em alguma parte de sua juventude? A única diferença da Kumi e nós, é que ela tem que ir para o espaço para procurar as suas respostas. Afinal de contas, isto é ficção feita por humanos e para humanos, e por mais que se busque inovar com ambientações completamente fantásticas, os seus temas e indagações sempre são relativos à nossa realidade.
De alguma forma que não é muito bem explicada, há um objetivo de mandar uma nave alienígena em forma de semente até o planeta natal dos borgs para que Kumi realize investigações sobre a própria natureza desses seres simbióticos, e de quebra, resolva suas questões existenciais. Só que ela não pretende ir sozinha, pois vai acompanhada por seu borg, o borg da Kazumi, fundido com o Yellow Knife, e o borg da Yuri. E como é de praxe, Yuri se atrasa e quase que não consegue enviar o seu borg na missão.
Só que nem tudo acontece como o planejado, ao chegar no planeta natal dos borgs, o borg da Yuri acaba criando um clone dela, o que não era esperado. Além disso, todos são atacados pelos alienígenas do planeta, os quais não são nada amistosos como os próprios borg terráqueos, sendo mais parecidos com os alienígenas em forma de girassóis presentes no mangá clássico. Nesse meio termo, Kazumi ficou na Terra esperando comunicaçã da Kumi, em virtude dela não ter podido embarcar na missão por ser a rainha dos Yelowknifes.
Interessante falar sobre a Kazumi, já que desde o mangá original, ela perdeu toda a sua humanidade, virando apenas a consciência do Yellow Knife. Comparada com a Kumi, a Kazumi manteve muito menos da humanidade, ficando restrita apenas ao corpo físico. Esté e um dos aspectos que mais aprecio em Alien 9, a maneira como o autor não tem medo nem receio de literalmente "ferrar" com a humanidade de suas personagens, e a mais improvável e mais fraca do grupo, a Yuri, é que aos trancos e barrancos se mantém a mais humana, embora isso não seja sinônimo de a tornar a mais completa, ou a mais feliz.
Ocorre que Alien 9 Next acaba abruptamente, isso mesmo, é uma obra incompleta, ela termina no clímax do conflito desenhado em seus três capítulos, com a invasão do borg primordial no plano terreno e as desventuras da Yuri em pleno solo alienígena. E como é de praxe nas obras de Tomizawa, mais mentes sendo controladas. A única explicação lógica que faça Alien 9 Next terminar abruptamente sem dar uma conclusão devida ao seu enredo, é que o próprio autor tem a intenção de prosseguir com a história, o que é bastante plausível, pois mesmo depois de tantos anos Tomizawa fez essa continuação, não sendo nada improvável que a dê prosseguimento em algum momento posterior, afinal só fazem pouco mais de dois anos da publicação de Next.
Além de deixar em aberto o final de Alien 9 Next, Hitoshi Tomizawa nos dá mais um sinal de que é possível uma continuação, e talvez com uma nova equipe estudantil de caça aos alienígenas, pois podemos claramente ver um pouquinho destas novas garotas, no meio e principalmente no final de Next. O engraçado que uma destas novas meninas se parece bastante com a Yuri, sentindo medo sobre um monte de coisas relacionados aos borgs e ao seu penoso ofício. O que demonstra que mostra que o medo é algo inerente ao ser humano.
E embora essa continuação não tenha mais aquele ar de aventura e crescente deturpação de uma atmosfera escolar, Next possui os seus méritos, em seu ressaltar certas bases que são frequentes na obra de Tomizawa, como a inutilidade dos adultos, os quais acabam deixando pré-adolescentes, agora adultas, resolver problemas que nem mesmo um adulto deveria se meter, além de causar traumas severos nas participantes, e se ainda fossem apenas traumas seria possível resolvê-los de alguma forma, mas elas, como no caso da Kumi e da Kazumi, perderam basicamente sua humanidade. Isso é perturbador, mas é o que faz Alien 9 tão envolvente, justamente a maneira como o autor não liga a mínima para praticamente destruir suas personagens. Isso não é algo que eu goste de ver sempre, mas é sempre bom, de tempos em tempos, ter uma dose de Tomizawa.
Falando de novo sobre a arte de Alien 9 Next, creio que este seja o principal diferencial do seus três capítulos. A arte por si só de Hitoshi Tomizawa é bem eficiente para criar paisagens completamente alienígenas e surreais, o que é potencializado com o uso de cores em todos os quadros, bem como da estranha utilização de computação gráfica para a composição do mangá. Realmente parece que que estamos no meio de uma alucinação com ácido enquanto lemos sua obra. A criatividade de Tomizawa em criar ambientações surreais e criaturas extremamente bizarras são dignas de elogio, fazendo jus às suas ligações ao movimento Superflat (sugiro que leiam este meu texto, onde dou uma aprofundada no que é o movimento Supeflat e suas influências: SPACE SHIP EE. UMA ODISSEIA SUPERFLAT NO ESPAÇO).
Desta forma, Alien 9 Next é um curioso complemento para a franquia de Alien 9 como um todo. Infelizmente ela termina em aberto, necessitando de uma continuação, o que, como eu disse acima, não é impossível. E para finalizar, creio que já passou da hora de algum mangá de Hitoshi Tomizawa ser publicado no Brasil, Alien 9 seria uma boa, apenas três volumes (quatro se contarmos com uma possível publicação de Emulators). Quem sabe né? Não custa nada sonhar. Anos atrás eu pensava que uma publicação de uma obra de Daisuke Igarashi seria quase impossível, e agora já estamos no seu segundo mangá publicado no Brasil. Assim sendo, Tomizawa no Brasil não é um sonho impossível.
E para finalizar, deixo uma lista dos meus textos sobre os mangás de Hitoshi Tomizawa já publicados pelo Dissidência Pop, que é uma autor que aprecio muito e ainda quero escrever mais sobre, então desfrutem! E para lembrar, espero que se gostaram deste texto, leiam Alien 9.
1. Alien 9 Mangá
2. Alien 9 OVAs
3. Alien 9 Emulators
4. Milk Closet
5. Battle Royale II: Blitz Royale
6. Yume Nikki
7. How to Colonize Space